Dimas do Nascimento Pereira,
Dimas Bibiu, nasceu aos 09 de Agosto de 1927, no povoado de Mundo Novo,
município de São José do Egito. Filho de Francisco do Nascimento Pereira e
Antônia Serafim do Nascimento.
Dimas,
cuja essência poética era a saudade, começou a fazer poesias através de
apresentações em atividades escolares, com apenas 11 anos de idade. Sua
infância foi vivida num sítio próximo ao povoado de Mundo Novo, ajudando o pai
na agricultura e criatório de gado. Aos cinco anos de idade, seu pai já o
levava pra assistir às cantorias de Pinto do Monteiro, Antônio Marinho, José
Soares, José Bernardino e outros. Assim, observando atentamente a expressão
poética destes cantadores, despertou aos poucos o seu talento nato de poeta.
Seus
grandes referenciais poéticos foram os mestres Zeca Filó e Manoel Filó, para
quem foi o maior poeta contemporâneo do Pajeú.
Grande
incentivador da tessitura dos versos, o poeta trazia consigo uma grande
aspiração: Ver a poesia ser difundida nas escolas, de forma que se fizesse uma
seleção de todos os grandes valores para que os alunos pudessem conhecer e
entender a importância da arte poética.
Algumas estrofes Sertanejas desse grande poeta:
Num domingo de verão,
Depois que almocei coalhada,
Fui pra rua e a meninada
Tava jogando pião.
Eu gostei da diversão,
Na terça mãe foi pra a feira,
Trouxe pra mim uma ponteira
E eu inventei pro meu uso
Um bico de parafuso
Num pião de goiabeira.
Depois que almocei coalhada,
Fui pra rua e a meninada
Tava jogando pião.
Eu gostei da diversão,
Na terça mãe foi pra a feira,
Trouxe pra mim uma ponteira
E eu inventei pro meu uso
Um bico de parafuso
Num pião de goiabeira.
Se fizer uma viagem
Pelo meu sertão querido,
Para ser bem recebido,
Chegando em uma moagem,
Não tenha nunca a coragem
De espantar um boi deitado;
Trabalhou, tá enfadado,
Descansando e remoendo
Não faça nada sabendo
Que está fazendo errado.
Pelo meu sertão querido,
Para ser bem recebido,
Chegando em uma moagem,
Não tenha nunca a coragem
De espantar um boi deitado;
Trabalhou, tá enfadado,
Descansando e remoendo
Não faça nada sabendo
Que está fazendo errado.
Dimas
Bibiu fez os versos que se seguem, inspirado pelo mote que os poetas Zé de
Cazuza e Manoel Filó fizeram e glosaram quando voltavam de Paulo Afonso,
Atravessando o Moxotó, já ao cair da
noite, num lugar deserto:
DEPOIS DA MORTE DO DIA.
O sol vai baixando lento,
Põe detrás do torriame;
O cortiço solta enxame
Num zunido barulhento.
O monte fica cinzento,
A sombra se distancia,
O gavião prende a jia,
Das unhas faz uma algema,
Murcha a folha da jurema
Depois da morte do dia.
Põe detrás do torriame;
O cortiço solta enxame
Num zunido barulhento.
O monte fica cinzento,
A sombra se distancia,
O gavião prende a jia,
Das unhas faz uma algema,
Murcha a folha da jurema
Depois da morte do dia.
A serra ficou dourada,
Só uma banda de sol.
A sombra do arrebol
Vai ficando desmaiada.
A água fica parada,
Cessa toda ventania,
O passaredo em folia
Começa a entristecer,
Vendo o mundo escurecer
Depois da morte do dia.
Só uma banda de sol.
A sombra do arrebol
Vai ficando desmaiada.
A água fica parada,
Cessa toda ventania,
O passaredo em folia
Começa a entristecer,
Vendo o mundo escurecer
Depois da morte do dia.
Sopra o vento estremecendo
As folhas, devagarinho,
Fazendo o último carinho
Ao dia que vai morrendo.
Farpas de luz se estendendo
Por cima da serrania;
Toca o sino Ave-Maria,
Nessa hora cai sereno
Dos olhos do Nazareno,
Depois da morte do dia.
As folhas, devagarinho,
Fazendo o último carinho
Ao dia que vai morrendo.
Farpas de luz se estendendo
Por cima da serrania;
Toca o sino Ave-Maria,
Nessa hora cai sereno
Dos olhos do Nazareno,
Depois da morte do dia.
A paisagem ainda morna,
Sugando a seiva da terra,
O sol se esconde na serra,
O mundo escuro se torna.
Numa tacha de tiborna
Um barrão a tromba enfia;
Estraga a mercadoria
Que o dono estava guardando,
Bebe, vira e sai roncando
Depois da morte do dia.
Sugando a seiva da terra,
O sol se esconde na serra,
O mundo escuro se torna.
Numa tacha de tiborna
Um barrão a tromba enfia;
Estraga a mercadoria
Que o dono estava guardando,
Bebe, vira e sai roncando
Depois da morte do dia.
Só o bem-te-vi desvenda
Do sol a última centelha
E vai pousar numa ovelha,
Que pasta em frente à fazenda.
Uma velha que faz renda,
Pára a almofada e enfia
Um alfinete que guia
Os bilros e se levanta
E vai temperar a janta
Depois da morte do dia.
Do sol a última centelha
E vai pousar numa ovelha,
Que pasta em frente à fazenda.
Uma velha que faz renda,
Pára a almofada e enfia
Um alfinete que guia
Os bilros e se levanta
E vai temperar a janta
Depois da morte do dia.
Lá num casarão antigo,
Onde houve uma senzala,
Se escuta gemido e fala
De alguém que procura amigo.
Talvez, pagando um castigo
Dos malfeitos que fazia,
Vem sofrer onde vivia
Com mil pecados nos ombros;
Ser fantasma ou mal-assombros
Depois da morte do dia.
Onde houve uma senzala,
Se escuta gemido e fala
De alguém que procura amigo.
Talvez, pagando um castigo
Dos malfeitos que fazia,
Vem sofrer onde vivia
Com mil pecados nos ombros;
Ser fantasma ou mal-assombros
Depois da morte do dia.
Se vê em todos lugares
A terra ficando escura,
Baixando a temperatura
Dos raios crepusculares.
Aumentam mais os pesares
Pra quem é cego de guia,
Passando a mão na bacia,
Não ganhou, nem se aperreia;
Reza e vai dormir sem ceia
Depois da morte do dia.
A terra ficando escura,
Baixando a temperatura
Dos raios crepusculares.
Aumentam mais os pesares
Pra quem é cego de guia,
Passando a mão na bacia,
Não ganhou, nem se aperreia;
Reza e vai dormir sem ceia
Depois da morte do dia.
Morre o dia sem conforto
Numa tarde ensolarada;
Fica a serra ensangüentada,
A noite sofre um aborto.
Já nasce o escuro morto,
Em trevas se extasia,
O pássaro ferreiro pia
E a sua marreta empunha,
Começa batendo a cunha
Depois da morte do dia.
Numa tarde ensolarada;
Fica a serra ensangüentada,
A noite sofre um aborto.
Já nasce o escuro morto,
Em trevas se extasia,
O pássaro ferreiro pia
E a sua marreta empunha,
Começa batendo a cunha
Depois da morte do dia.
Dimas Bibiu
Fonte: Facebook de Marcos Passos
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