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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Maria Bethânia: 'A poesia tem uma sensualidade infernal'


Maria Bethânia lança 'Caderno de Poesias' - Divulgação



RIO — Em 2009, a historiadora mineira Heloisa Starling convidou Maria Bethânia para participar de um projeto da Universidade Federal de Minas Gerais em que a cantora escolheria seus poemas preferidos para declamar aos alunos. Bethânia topou, encheu os bolsos com versos de Fernando Pessoa, Castro Alves, Guimarães Rosa, entre outros, e, meses depois, interpretou-os para uma plateia lotada de jovens. O som falhou, a luz faltou, mas o sarau improvisado nunca saiu da memória da artista, que acabou transformando a ideia no espetáculo “Bethânia e as palavras”, que rodou Brasil e Portugal.
No ano em que comemora cinco décadas de carreira — com show, exposição e enredo de carnaval entre as celebrações — a cantora agora lança o livro com todas as poesias escolhidas, além de textos de próprio punho: “Caderno de poesias” (Editora UFMG), com projeto gráfico de Gringo Cardia.

Paralelamente, sai pela Biscoito Fino o DVD do espetáculo que deu origem à publicação. E o que era para ser só um sarau para alunos também vai virar uma série de TV: ao assistir a uma das apresentações, a direção do Arte 1 a convidou para criar um programa sobre o tema, e o piloto, sobre Castro Alves, acaba de ser gravado. Ao GLOBO, Bethânia fala sobre sua relação com a poesia.

Além de poesia, é sabido que você adora HQs. Foram os quadrinhos que te despertaram para a leitura?
Na verdade, não. Estudei em colégio de freira, com muito rigor, onde eu tinha muito medo. Mas conheci o professor Nestor de Oliveira. Ele me trouxe a novidade de que uma aula podia ser deliciosa. Ele saía daquele rigor. Acho que ele era muito boêmio e não preparava a aula, sabe? (risos) Ele pegava uma poesia linda do Castro Alves, dava um pouco de gramática e tome poesia! Foi daí. A coisa da história em quadrinhos me pegou já aqui no Rio, quando me vi com 17 anos caindo nessa novidade de ser cantora famosa. Era uma coisa infantil. E eu ainda leio. Domingo agora ganhei um livro muito interessante, “A vida oculta de Fernando Pessoa”, em quadrinhos.

Depois do Nestor, quais mestres foram te guiando pela poesia?
Sou irmã de Caetano, né? Mas vindo para o Rio, Vinicius de Moraes, que foi um grande amigo, um grande professor. Por algum tempo, morávamos no mesmo prédio, e ele perguntava: “Bethaninha, que cê vai fazer hoje? Tome este livro. Leia e comente comigo”. E Fauzi Arap (diretor de teatro). Este projeto, hoje, é fruto de um exercício que Fauzi e eu descobrimos juntos, lá atrás, um jeito que cortar um poema e colar com um pedaço de música, essas colagens que ele me ensinou para eu me expressar melhor.

A ordem dos poemas também foi estabelecida por você?
Fui eu que fiz tudo. E fiz às 11h, numa universidade, sem luz, sem som, eu cantarolava à capela, e todo mundo foi gostando daquilo, como se fosse um espetáculo. E pra mim não era. Mas com o respaldo da universidade e com a permissão dos autores, virou. E isso pra mim é bonito porque vai oferecer para outros alunos aquela mesma emoção que eu senti com o Nestor. Se não fosse com esse propósito, eu deixava tudo guardado, quietinho, como sempre fiz, e depois queimava (refere-se aos textos de sua autoria que integram o livro).

Mas na exposição que ocupou este ano o Paço Imperial havia alguns dos seus cadernos de poesias à mostra...
Eu dei uma aberturinha maior esse ano, né? (risos) Eu não tenho intenção nenhuma de publicar, nada. Eu gosto é do exercício. Faço para me aliviar. Toda essa pressão de palco, estreia, visibilidade... É uma válvula de escape.

No livro, você escreve que “Dizer poesia hoje, nesse tempo de tanto desapego, é tarefa difícil. É como ofender o mundo”.
Exato. Pare um pouquinho, desligue o telefone dez minutos, leia um verso. Em algum momento você vai se lembrar de como aquilo te fez sentir. Alguma coisa fica. Neide Archanjo dizia: “Poesia é uma pétala caindo no abismo”.

Mas a poesia também vive um momento bom, com boas vendagens para coletâneas, como a de Leminski.
Acho que é porque pessoa também não aguenta! Ninguém aguenta ficar três horas no trânsito sem cantarolar uma canção, sem lembrar de uma frase, de um beijo, de um perfume.

A lista dos poemas do livro tem Fausto Fawcett, Bruna Lombardi.
‘No desespero eu corro pro Pessoa, a poesia me vinga. Pelo menos alguém escreveu o que eu não sei dizer’

Foi a Regina Casé quem me apresentou à poesia de Fausto Fawcett, e adoro. A Bruna eu conheço de muitos e muitos anos. E quis incluir aquele poema lindo que ela fez quando arrebentou com o mundo como Diadorim (na minissérie “Grande Sertão: Veredas”, em 1985), um poema sobre o ar: “Você pode me empurrar pro precipício/ não me importo com isso/ eu adoro voar”.

Como surgiu o programa de TV?
A direção do Arte 1 me procurou, com interesse em investir em poesia, querendo que eu fizesse um programa. Eu disse que sim, mas que primeiro precisava saber se tinha dinheiro público dentro. Se tivesse, eu estaria fora. Depois, disse que não sou jornalista, não sei entrevistar, não sou intelectual, não sirvo para mediar. O que posso fazer é interpretar. Sugeri começarmos com Castro Alves, e botar o professor Alberto da Costa e Silva para dialogar com o Mautner. Eles conversavam, e de vez em quando citam algum poema. E eu pá! Entro e declamo. E eu também pedi para ter sempre um professor de escola pública em cada episódio, para conversar sobre a sua realidade.

Você lê poesia erótica?
Sim. Recebi o livro do Chico César, “Versos pornográficos”, quando fizemos um show juntos. E desde então estou louca por este livro. E é uma delícia, ele é danado, eu lia e pensava: menino, tome juízo! A poesia tem uma sensualidade infernal. Tem uma hora que nego fica mexendo ali e não segura a onda, entrega o jogo.

Como você viu a notícia do incêndio no Museu de Língua Portuguesa?
Eu estava vendo TV e vi a tragédia. Inclusive eu “falo” neste museu, eu recito justamente Diadorim, de Guimarães Rosa. É um simbolismo muito forte, o fogo lambendo a nossa língua. Logo nesse lugar, esse elemento... Você veja: água, lama, lume. É a natureza estremecendo. Isso me dá mais certeza de que a natureza é realmente poderosa e está dando sinais de muita nitidez. Normalmente, quando tem lume, é um bom sinal. É um elemento que está perto de mim, por causa do meu orixá. É sabido que o lume, quando incendeia, renova. Por isso eu queimo meus papéis, meus escritos, e quando falam “que pena”, eu penso: pena nada, eu é que não sou boba.

E o fogo renova sua escrita?
O fogo pode ser um sinal de esperança, sim. O que eu fico assustada, mais do que tudo, é com o cinismo. O cara acaba com as cidades, com lama, cobre tudo, mata, e não acontece nada. Agora o incêndio, ah, “pode ter sido um curto-circuito porque não tinha prevenção”, como assim? O Rio de Janeiro botando tapume nos hospitais. É muito cinismo, é desesperador. No desespero eu corro pro Pessoa, a poesia me vinga. Pelo menos alguém escreveu o que eu não sei dizer.

POR O GLOBO  

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