
Almíscares e candores
Parei
Espreitei, imóvel e silente
Porque um pássaro, meu amigo, cantou
E, dizendo-me que bem-me-viu
Deu-me boas-vindas
Falou-me da chuva e do sol
E desvendou-me os segredos
De como eles tingem arco-íris
Aqui, nesse universo
Por onde quer que eu me embrenhe
Converso com formigas, pássaros, besouros e abelhas
Que me ensinam sobre a faina e a leveza de como tocar a vida
Converso, também, com pétalas e espinhos
(Elas, que imitam asas de borboletas; eles que me instigam)
A flora oferta-se ao mirar, como a estrada aos pés
Neles se configuram: candura aos meus olhos
Definição aos meus passos
Aqui
Nessa imensidão de luzes
Onde as manhãs chuvosas se revestem
Com a textura da aurora, até ao meio-dia
E se estende à tarde
Que se deleita pelo que viceja
Pelo que explode das ânsias da terra
Pelos cânticos naturais de silvos
E pelos almíscares nos ares
Onde a noite se condensa e se enfeita
Com tremeluzir de estrelas
Envoltas em clarão de lua cheia
Entrego-me aos candores que aqui me tocam
E aos encantamentos que me levam
A nunca deixar de ser criança
Virgílio Siqueira

Nenhum comentário:
Postar um comentário