Rapha Santacruz nunca fez parte de uma trupe, mas vive de mágica há 5 anos. Foto: Silvio Barreto/Divulgação. |
Para coletar as informações, o projeto criou um site para que os trabalhadores do circo - artistas solo, escolas, além de trupes e companhias itinerantes - respondam a um questionário sobre as atividades, com informações sobre os números realizados, treinamento já feito, meios de sustento e dificuldades da profissão. Profissionais e centros de formação também foram procurados, pessoalmente ou por telefone, e alguns dos locais, fotografados.
Embora o projeto ainda não tenha terminado, já é possível ter ideia de como o meio se sustenta. “Os circos de lona de Pernambuco, por exemplo, circulam cobrando ingressos entre R$ 3 e R$ 10 e têm, na melhor das hipóteses, uma plateia de 300 espectadores por apresentação. A estrutura necessária é muito dispendiosa. Cada circo tem, no mínimo, dez pessoas envolvidas em cada espetáculo e também é preciso arcar com fretes de caminhão para transportar os equipamentos”, detalha Sandra Silva, uma das integrantes do projeto.
Um exemplo que se encaixa no perfil é o do Circo de Mônaco, de médio porte, que circula pelo interior do Nordeste e está atualmente em Pombal (PB). A trupe existe há 12 anos e é comandada por Poliana Smirnof, nascida e criada no meio circense. Segundo ela, a atividade é vista de forma ambivalente, com encanto e, ao mesmo tempo, desconfiança. “Procuramos cidades maiores, com mais recursos, mas as prefeituras não querem liberar os terrenos”.
Foi a partir da infância que Rapha Santacruz, 25 anos, se encantou com o ilusionismo. Apesar de não ter vindo de família circense - o pai era cabeleireiro -, aprendeu cedo os primeiros truques, aos 10 anos, com um mágico de rua em Caruaru, onde nasceu. Quando circos chegavam à cidade, Rapha fazia testes para se apresentar, embora nunca tenha feito parte de nenhuma trupe.
Há cinco anos, ele vive exclusivamente da mágica, em carreira solo, com apresentações em festivais e empresas. A renovação dos truques é feita por meio de viagens a congressos e a interação com outros suportes artísticos. “A essência do ilusionismo é a prestidigitação, ou seja, a habilidade manual. Em meu novo espetáculo, chamado Tenda Mulungu, me inspiro no universo das feiras”.
Embora a formação autodidata seja uma prática consolidada no ambiente circense, o surgimento das escolas se tornou mais uma forma de repassar essa arte. Na Escola Pernambucana de Circo, fundada em 1996 no bairro da Macaxeira, o foco é o trabalho com circo social. Acrobacias, malabares e outros números são ensinados a 150 jovens para que eles se apresentem em festas, eventos e em espetáculos do repertório da Trupe Circus, companhia profissional formada na escola por educadores e ex-alunos. “Virou moda colocar o circo em expressões artísticas, como a dança e o teatro. Ele é inserido como diferencial em uma montagem, mas daí a valorizar a arte circense vai uma grande distância. É como se o circo fosse encarado como algo menor”, comenta a coordenadora da escola, Fátima Pontes.
Assista a performance de Rapha Santa Cruz:
O CIRCO E SUA ORIGEM
As atividades circenses existem há milênios, desde o Antigo Egito, passando pela Índia e China. Em todas essas sociedades, há registros de acrobacias, equilibrismo, contorcionismo e malabarismo. No entanto, o circo, como o conhecemos hoje no mundo ocidental, na Roma Antiga, quando corridas de biga, engolidores de fogo e apresentações com animais selvagens eram a tônica de cada sessão. Quem criou o circo moderno, por sua vez, foi o inglês Philip Astley (1742-1814), pioneiro em cobrar ingresso e vender os números como um show de variedades.
O CIRCO NO BRASIL
As primeiras trupes circeneses chegaram ao Brasil no século 19, vindas da Europa, e Em 1982, foi fundada a Escola Nacional de Circo, a primeira instituição oficial formadora de artistas circenses do país. Atualmente, o Dia Nacional do Circo é comemorado em 27 de março, data do aniversário do palhaço Abelardo Pinto Piolin, mais conhecido pelo seu sobrenome, Piolin.
PROJETO PICADEIROS PE COMO PARTICIPAR
Na página do projeto há questionários a serem respondidos por três categorias: circos e companhias, artistas solo e escolas. Quem não tiver imagens de apoio pode solicitar à equipe uma sessão fotográfica gratuita, de acordo com a disponibilidade dos integrantes de ambas as partes.
Isabelle Barros - Diário de Pernambuco
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