terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Nelson Gonçalves, voz dos folhetins musicais, tem centenário de nascimento festejado em espetáculo de teatro

Nelson Gonçalves, voz dos folhetins musicais, tem centenário de nascimento festejado em espetáculo de teatro
Foto Reprodução de capa de disco

O ano de 2019 entra hoje em cena com a missão de fazer ecoar em todo o Brasil a voz já centenária de Nelson Gonçalves. Cantor de multidões, como o contemporâneo Orlando Silva (1915 – 1978), Nelson Gonçalves nunca foi celebrado pela modernidade como este referencial colega que influenciou até João Gilberto.

Nelson optou por deixar o nome na história da música brasileira pela eternidade do repertório formado por sambas-canção, boleros, tangos e outros gêneros passionais. Sim, a voz grave de barítono – cuja afinação e dicção impecáveis ocultavam no palco e nos estúdios de gravação a gagueira lendária do cotidiano – ardeu na fogueira das paixões folhetinescas do cancioneiro do Brasil pré-Bossa Nova.


Com roteiro centrado neste repertório de amores explícitos, um musical de teatro escrito em tom filosófico, Nelson Gonçalves – O amor e o tempo, estreia esta semana na cidade do Rio de Janeiro (RJ) para abrir as comemorações do centenário de nascimento deste cantor acidentalmente gaúcho, nascido em 21 de junho de 1979 na cidade de Sant'Ana do Livramento (RS) com o nome de Antônio Gonçalves Sobral, mas criado em bairros populares de São Paulo (SP).

Nelson Gonçalves, nascido em 1919, tinha voz de barítono aclamada pela afinação impecável — Foto: Reprodução de capa de disco
Nelson Gonçalves, nascido em 1919, tinha voz de barítono aclamada pela afinação impecável —                                    Foto: Reprodução de capa de disco

 Ao sair de cena em 18 de abril de 1998, Antônio já era Nelson. Aliás, para o Brasil, Antônio já tinha virado Nelson Gonçalves desde os anos 1940, década áurea da era do rádio. De 1941 a 1998, período em que esteve em atividade no mundo do disco, Nelson Gonçalves gravou uma centena de álbuns e quase duas centenas das velhas bolachas de 78 rotações por minuto.

Ao todo, entre LPs e compactos (os singles da época de Nelson), o cantor teria vendido estimados 50 milhões de cópias de discos. Número compatível com a popularidade deste intérprete que atravessou modismos e movimentos musicais sem nunca sair de moda sob a ótica dos fiéis ouvintes das rádios e dos discos do barítono.

Se Nelson quase saiu de cena na década de 1960, não foi por causa do carimbo de cafona posto pelos adeptos da Bossa Nova em todos os cantores que abriam o coração e o diafragma para dar vozes robustas às dores de amores. Foi porque a vida pessoal saiu momentaneamente dos trilhos.

Nelson Gonçalves foi cantor romântico, como está estampado na capa deste disco  — Foto: Reprodução de capa de disco
Nelson Gonçalves foi cantor romântico, como está estampado na capa deste disco 
— Foto: Reprodução de capa de disco

 Cantor que chegou a gravar com Lobão nos anos 1980, Nelson Gonçalves teve vida rock'n'roll quando mergulhou nas drogas, seguindo o mau exemplo do cantor que começou imitando, o tal do Orlando Silva, até adquirir identidade própria. Penou na lutra contra o vício, mas se livrou da cocaína. E conseguiu reabilitar na década de 1970 a voz limpa de cacoetes que o fazia ser percebido como o Frank Sinatra brasileiro aos ouvidos de muita gente boa.

Era cantor tão seguro que, contam produtores musicais como José Milton, costumava deixar o táxi esperando na porta do estúdio quando ia gravar uma música. Voltava logo, pois tinha a justa fama de gravar de primeira.

Boêmio e machista que disparava frases que hoje o fariam ser implacavelmente tachado como politicamente incorreto, Nelson Gonçalves foi grande como a voz que ressoou por seis décadas antes de se eternizar na música do Brasil. Falta somente o Brasil redescobrir tal grandeza em 2019, ano do centenário de nascimento de Nelson Gonçalves, um cantor de multidões.

Por Mauro Ferreira, G1

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