domingo, 23 de dezembro de 2018

A poesia de João Paraibano


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Toda noite quando deito
Um pesadelo me abraça
Meu cabelo que era preto
Está da cor da fumaça
Ficou branco após os trinta
Eu não quis gastar com tinta
O tempo pintou de graça.

Quando o dia começa a clarear
Um cigano se benze e deixa o rancho
A rolinha se coça num garrancho
Convidando um parceiro pra voar
Um bezerro cansado de mamar
Deita o queixo por cima de uma mão
A toalha do vento enxuga o chão
Vagalume desliga a bateria
Das carícias da noite nasce o dia
Aquecendo os mocambos do sertão.

Me lembro da minha mãe
Dentro do quarto inquieta
Passando o dedo com papa
Nessa boca analfabeta
Sem saber que um dedo rude
Tava criando um poeta.

João Paraibano

Pedro Fernando Malta – Repentes, Motes e Glosas
Jornal Besta Fubana

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