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Falando ao Mar
Ô mar soberbo e bravio,
Para que tanto rancor,
Pra que tanto desafio,
Tanta fereza e terror?
Quem te olhar sente espanto
Ao reparar teu encanto
Sente prazer e receio
Tens em ti milhões de impérios
Ninguém revela os mistérios
Que tens ocultos no seio
As tuas infindas plagas
Se removem sempre ao léu
Parece que tuas vagas
Às vezes topam no céu
Te encrespas sem esforço
Espalhas teu grande dorso
Levantas teu busto a esmo
As tuas ondas, revoltas,
Que sobre ti correm soltas
São as sobras de ti mesmo
Vejo as tuas convulsões,
Tuas águas abalarem
Fragorosos borbotões
Descerem, se levantarem
A onda , longe da terra
Dá sentido de uma serra
Por seu modelo perfeito
Tuas vagas desmarcadas
São verdadeiras golfadas
Que arrancas de teu peito
Te arrojas de praia a praia
Tua roupagem tremula
Tens um verde que desmaia,
Regula e se desregula
Como um continuo gemido
Esse teu grande alarido
Tem voz cavernosa r rouca
A onda se forma e ruma
Pra jogar fora a espuma
Que tu conservas na boca
Na hora que te encapelas
Para que tamanho abalo?
Teu corpo desenovela
Sem ninguém poder domá-lo
Até a lua te influi
Tua maré diminui
Mas aumenta todo mês
Te acalmas, te enfureces
És bravo, só obedeces
Ao grande ser que te fez
Tuas águas, com fereza
Umas nas outras mergulham
Nessa continua aspereza
Se embrulham, se desembrulham
Se embaralham, se chocam
Fazem colunas, deslocam
Numa fúria absoluta
Umas são jogadas doutras
Outras se levantam noutras
Nunca terá fim a luta
Mar, pra que tanta potência,
Tanto terror e grandeza?
Essa tua resistência
Já é contra a natureza
Estúpido, forte, fremente,
Misterioso e valente
Nunca sentiste perigo
O teu poder é profundo
Desde que vieste ao mundo
Tens esta glória contigo.
João Batista de Siqueira (Cancão)
*Poesia retirada do Livro Palavras ao plenilúnio de Lindoaldo Campos
CANTIGAS E CANTOS
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