quinta-feira, 27 de abril de 2017

Poesia: “Jesus salva a pobreza nordestina, com três meses de chuva no Sertão”, um mote glosado por Ivanildo Vilanova

 
Foto: imagem/Google

“Jesus salva a pobreza nordestina
Com três meses de chuva no Sertão”

O bezerro mamando a cauda abana
A espuma do leite cobre o peito
Cada estaca de cerca tem direito
A um rosário de flor da jitirana.
No impulso do vento a chuva espana
A poeira do palco do verão
A semente engravida e racha o chão
Descansando dos frutos que germina
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

No véu negro da barra, o sol se esconde
Um caniço amolece e cai no rio
Nos tapetes de grana do baixio
Um tetéu dá um grito, outro responde
A frieza da terra faz por onde
Pé de milho dar nó no esporão
E a boneca, na sombra do pendão
Lava as tranças com gotas de neblina
Jesus salva a pobreza nordestina,
Com três meses de chuva no Sertão.

A cabocla mulher do camponês
Caça ninho nas moitas quando chove
Quando acha dez ovos, tira nove
Deixa o outro servindo de indez
As formigas de roça fazem vez
De beatas seguindo procissão;
As que vêm se desviam das que vão
Sem mão dupla, farol e nem buzina
Jesus salva a pobreza nordestina
Com três meses de chuva no Sertão

Treme o gado na lama do curral
Sopra o vento, cheirando a chão molhado
Cada pingo de chuva, congelado
Brilha mais do que pedra de cristal
Uma velha, durante o temporal
Se ajoelha, rezando uma oração
Fecha os olhos com medo do trovão
E abre a porta, depois que a chuva afina
Jesus salva a pobreza nordestina
Com três meses de chuva no Sertão.


Ivanildo Vilanova

CANTIGAS E CANTOS

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