
A estrada matou quem escreveu
O mais belo poema da estrada
Eu não creio na força do destino
Só aceito os poderes do acaso
Porque Deus não vai um mês de prazo
Para ver o sequestro de um menino
Nem também segurar Zé Marcolino
Controlando o processo da jornada
Para que não faltasse uma passada
Nem sobrasse por onde a rês correu
A estrada matou quem escreveu
O mais belo poema da estrada*
Cariri agoniza, aceita e chora
Pajeú se comporta pesaroso
Sem ouvir um som melodioso
De quem cedo da vida foi embora
A notícia que é ruim vem toda hora
A notícia que presta é demorada
A família por mais angustiada
Que esteja padece como eu
A estrada matou quem escreveu
O mais belo poema da estrada*
Meu compadre, colega e quase irmão
O saudoso poeta Marcolino
Comandado da sorte do destino
Foi mudado pra outra região
Uma vaca, inocente sem razão
Atropela-lhe o carro em disparada
Deixa a pista de sangue nodoada
Como marca do que aconteceu
A estrada matou quem escreveu
O mais belo poema da estrada**
A estrada não teve complacência
De culpar um poeta cantador
Que cantou sua glória, seu valor
Lhe tratando com tanta deferência
Não lembrou-se que aquela inteligência
Precisava rever sua morada
Foi ingrata, perversa, desalmada
Machucou seu carro e ele morreu
A estrada matou quem escreveu
O mais belo poema da estrada**
Sei que a vida do vate terminou-se
Por motivo dum carro que virava
Por frações de segundos ele escapava
Por frações de segundos ele acabou-se
O poder do acaso atravessou-se
Lhe trazendo a morte, essa embaixada
Seja a alma do corpo separada
Um subiu pro céu, outro desceu
A estrada matou quem escreveu
O mais belo poema da estrada**
Autores: Manoel Filó* e Zé de
Cazuza**
CANTIGAS E CANTOS

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