quinta-feira, 16 de março de 2017

Poesia: "Só tem marcas de pingo de saudade Nos caminhos da minha solidão", um poema de João Paraibano

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Foto: Site da Rádio Pajeú

"Só tem marcas de pingo de saudade
Nos caminhos da minha solidão"

Meu cabelo está branco cor de gesso
Mas foi preto da cor da noite assim
A velhice me arrasta para o fim
Mas eu penso em voltar pra meu começo
Cada passo que dou, levo um tropeço
Pela falta do brilho da visão
Que meus olhos estão cor de carvão
No passado tiveram claridade
Só tem marcas de pingo de saudade
Nos caminhos da minha solidão

Já perdi toda minha meninice
Me afoguei entre o mar dos desenganos
Já caí na fogueira dos teus anos
Isso eu acho uma mão pra que atice
Estou sentindo a ferida da velhice
Se estendendo no véu do coração
E o difícil é achar medicação
Para um dia curar a enfermidade
Só tem marcas de pingo de saudade
Nos caminhos da minha solidão

Hoje em dia só estou levando sova
Nesta arte bonita que exerço
No passado vivi da flor do berço
Hoje em dia pensar é só na cova
A mulher que eu amo ainda é nova
Mas pra ela eu já sou um ancião
Quando espero seu sim, recebo um não
Nova a velho dá pouca liberdade
Só tem marcas de pingo de saudade
Nos caminhos da minha solidão

A mulher que de mim teve ciúmes
Hoje em dia não está tendo mais
Esqueci dos seus atos sexuais
Que a velhice é pesada o seu volume
Minha flor se encontra sem perfume
O meu fruto já está faltando grão
Um dos olhos se encontra sem visão
E o outro está vendo na metade
Só tem marcas de pingo de saudade
Nos caminhos da minha solidão

Eu já tive dezoito de idade
Já gozei toda minha meninice
Com o peso da cruz desta velhice
Pra andar é maior dificuldade
Me tranquei na cadeia da idade
E não encontro uma absolvição
Até hoje não achei uma só mão
Com uma serra serrando o pé da grade
Só tem marcas de pingo de saudade
Nos caminhos da minha solidão

João Paraibano

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