MOCIDADE ADEUS
Fiz uma longa
viagem
Por onde vivi
outrora
Pra voltar faltou
coragem
Para o lugar que
vivo agora
Eu vi perfeito um barreiro
No aceiro do
terreiro
Que eu fiz quando
criança
Essa falsa mocidade
Matava minha saudade
Me dando nova
esperança
Assisti a tarde
bela
O horizonte febril
A casa que morei
nela
Que o tempo não
demoliu
Fiquei de pé
escutando
A passarada
cantando
Numa velha quixabeira
Do jeitinho que
deixei
No mesmo canto
encontrei
Meu pião de
goiabeira
Vi o sol primaveril
Localizando a
floresta
O espaço cor de
anil
Toda passarada em
festa
Vi as juremas
floridas
Como quem foram
esquecidas
Por quem as admirou
O mesmo perfume
exalado
Como aquele do
passado
Que o tempo não
acabou
Quando criança eu
brincava
Não dava tempo ter
medo
O consolo eu não
usava
Na boca eu botava o
dedo
A minha vida foi um
sonho
Sobre um gramado
bisonho
Que fantasiava o
prado
As águas brandas da
fonte
Se deslisavam no
monte
De um paraíso encantado
Em procura do outeiro
De manhã cedo eu
saia
Caçando algum
verdadeiro
Por entre a ramagem
fria
Os sabiás espirosos
Nos baraunais
frondosos
Cantavam lindas canções
Como os quais
gravasse ao vento
Um disco de
sentimento
Das minhas
desilusões
O meu cavalo de pau
Arapuca e a gaiola
Balinheira,
berimbau
Os meus dias de
escola
As jogadas de castanha
Minha volta na
montanha
De manhã ao meio
dia
A minha bola de
meia
Minha cama na areia
Na inocência do dia
Para o lado do
poente
Quem prestar bem
atenção
Recorda um passado
ausente
Chega dói no
coração
Sem sinal de
esperança
Por fim só fica a
lembrança
De uma mãe que
faleceu
Eu perdi uma que
tive
E quem perdeu
também só vive
Sofrendo assim como
eu
Meu sentimento é
profundo
Talvez que não
tenha fim
Por que me jogaram
ao mundo
Para sofrer tanto
assim
Tenho casa, saúde é
verdade
Mas quando sinto
saudade
Tem sabor de
solidão
Só Jesus me
compreende
Gente daqui não
entende
Como é meu coração.
Erasmo Rodrigues
Poeta de Ouro Velho
CANTIGAS E CANTOS
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