sábado, 4 de fevereiro de 2017

Poesia: "Cinzas" e "Asas", dois sonetos de Heitor Lima

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Foto: Imagem / Google

CINZAS

A última brasa ardeu na cinza adusta:
Tudo passou, tudo se fez em poeira...
E na minha alma, que o abandono assusta,
Morre a luz da esperança derradeira.

O amor mais casto, a aspiração mais justa
Têm a desilusão para fronteira...
Um momento de sonho às vezes custa
O sacrifício da existência inteira!

Chama efêmera, o amor! Baldado surto,
A glória! Ah! coração mesquinho e raso...
Ah! pensamento presumido e curto...

E o amor, que arrasta, e a glória, que fascina,
— Tudo se perderá no mesmo ocaso
E se confundirá na mesma ruína.

 ASAS

O que torna mais triste o céu sangrento
Ao pôr-do-sol, são as partidas, são
Os adeuses dos pássaros ao vento,
Numa incerta e fugaz palpitação.

Ah! Quantas vezes, no apressado ou lento
Voejar de aves que veem e aves que vão,
Tocam-se duas asas um momento
E afastam-se em contrária direção...

Também os nossos corações, um dia,
Se encontraram: no ocaso rubro ardia
O incêndio dos amores imortais.

E — asas, na tela acesa do sol poente —
Um no outro eles roçaram levemente,
Para não se encontrarem nunca mais!

Heitor Lima

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