segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Poesia: "Só defende a caatinga quem se sente Parte dela ou reside no Sertão", um poema de João Filho

Para quem ama o sertão, aí vão os versos do sempre inspirado poeta João Filho, sobrinho do grande repentista Zezé Lulu , de São José do Egito/PE.
SÓ DEFENDE A CAATINGA QUEM SE SENTE
PARTE DELA OU RESIDE NO SERTÃO
Só defende a caatinga de verdade
Quem conhece facheiro ou xiquexique
Quem já fez uma cerca pau-a-pique
Tão comum em qualquer propriedade
Quem com oito ou dez anos de idade
Já fez festa em apanha de algodão
Limpou mato, plantou milho e feijão
Colocando os dois pés na terra quente
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Só defende a caatinga quem já viu
Um preá descansando num limpeiro
Um cachorro correndo atrás do cheiro
Da raposa ladina que fugiu
A tristeza do gado que mugiu
Encontrando a cacimba com rachão
Sem um pingo de água no porão
Pra salvar uma rês que cai doente
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Só defende a caatinga quem viu nela
Marmeleiro tremendo ao meio-dia
E um vaqueiro ajudando a vacaria
A passar na largura da cancela
Uma moça mexendo na panela
Preparando a segunda refeição
Dez galinhas ciscando no oitão
Uns três gatos dormindo no batente
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Só defende a caatinga quem escuta
No inverno a chuvinha no telhado
Camponês que às seis vai pro roçado
Começar mais um dia de labuta
A mulher com seu traje de matuta
Segurando uma lata em cada mão
Entoando um forró, xote ou baião
Aparando água limpa na corrente
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Só defende a caatinga, o sertanejo
Que almoça feijão com rapadura
Pra depois misturar manga madura
Que um pássaro deixou como sobejo
Que adora xerém, coalhada e queijo
Mungunzá, jerimum, ovo e pirão
A galinha, guiné, galo e capão
Um manjar do Sertão, terra da gente
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Só defende a caatinga que viveu
Com orgulho de ser da sua terra
Procurando mocó no pé de serra
Sem saber onde o bicho se escondeu
Quem escuta a cantiga do sofreu
E a garganta afinada do carão
Suplicando ao Céu com inspiração
A chegada da chuva novamente
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Só defende a caatinga com amor
Quem chorou de saudade ao fim do dia
Escutando a divina melodia
Das casacas de couro ao sol-se-pôr
Um canário que expulsa a sua dor
Soluçando por trás duma prisão
Vendo a flor se abrindo no botão
Numa prova que Deus está presente
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Só defende esse solo abençoado
Quem viveu na paisagem ressequida
Produzindo, com fé, o pão da vida
Na poeira dum chão tão castigado
Vendo o milho morrendo apendoado
Sem poder suportar a sequidão
E a boneca entre a folha e o pendão
Se escondendo do sol incandescente
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Só defende a caatinga quem é forte
Quem respeita o poder da natureza
Afirmando haver chuva com certeza
Vendo a lua pendida para o norte
O Sertão eu defendo até a morte
Por ser filho da mesma região
Paraíso onde ouvi Louro e Cancão
Era um rei na caneta, outro em repente 
Só defende a caatinga quem se sente
Parte dela ou reside no Sertão
Poeta João Filho
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Fonte: Facebook de Paulo Passos

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