segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Poesia: "Madrugada", um poema de João Batista de Siqueira 'Cancão'











MADRUGADA

Era alta madrugada
O nevoeiro sumia
A terra, desalinhada
Tranquilamente dormia
Desciam dos altos cumes
Centenas de vaga-lumes
Numa santa serenata
Um caboré pensativo
Testemunhava o motivo
Dalgum  bulício da mata

Por trás das serras azuis
Vênus surgia contente
Abrindo uma cortina de luz
Na cortina do oriente
As estrelinhas piscavam
Brilhantes, se enamoravam
Das lindas flores do monte
A lua, através dos prados
Beijava os lábios gelados
Da boca triste da fonte

Na cordilheira existia
Outra forma, outro modelo
Quem olhasse parecia
Um resto de pesadelo
O monte, a serra, o pomar
Cada qual era um lugar
De coisas misteriosas
A terra, um antro funéreo
Ou então um cemitério
De aparições tenebrosas

A montanha apresentava
Desolamento profundo
Qual monstro que sonhava
Desde que Deus fez o mundo
O farfalhar das palmeiras
Criadas nas ribanceiras
Causava melancolia
A sombra dos vegetais
Dava forma de animais
Deitados na relva fria

A aura branda passava
Nas matas silenciosas
Enquanto um mocho piava
Nas gargantas cavernosas
Antes de acalmar tudo
Outro pio mais agudo
Que se percebia bem
Depois, silêncio profundo
Dava impressão que no mundo
Vivo não tinha ninguém

Despertava a natureza
Daquele sonho pesado
Admirando a beleza
De seu império encantado
Na direção da ladeira
De uma velha aroeira
Vinha o choro da acauã
O sol contente surgia
Vestido de luz e abria
O lindo véu da manhã.

João Batista de Siqueira "Cancão"

Poema extraído do livro: “Palavras ao plenilúnio de Lindoaldo Campos.

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