TRISTEZAS
Eu sou como a violeta
Criada a orla do prado
Onde não há borboletas
Nem outra flor a seu lado
Só pela data calmosa
A aragem maviosa
Vem oscular-lhe mansinho
E assim, nessa tristeza
Nem a própria natureza
Nunca lhe fez um carinho
Desde a minha tenra idade
Meu viver é um gemido
Tenho a taciturnidade
Do lago mais escondido
Meu coração gemebundo
Não tem descanso um segundo
No mais cruento sofrer
Vivo sem saber se vivo
Porque n ao sei o motivo
De a sorte não me querer
Eu tenho a melancolia
Das sombras do arrebol
A mesma monotonia
Das auras pôr-do-sol
A minha alma, uma flor
Exposta a todo rigor,
Oculta no peito meu
Um coração, uma planta
Onde a natureza santa
Em nada lhe protegeu
Sou como a sombra talhada
Da serra do boqueirão
Dormindo sempre calada
Pelos declives do chão
Em mim só chega amargura,
Tormento, dor, desventura
Nunca o prazer conheci
Dessa vida acidentada
Eu não sei revelar nada
Porque não sei se vivi
Eu sou a rosa do monte
Criada longe das hortas
Sinto o queixume da fonte
Que chora nas noites mortas
Se tive alguma doçura
Foi tirada da mistura
Do lado da cana puba
Tenho a tristeza do vento
Enquanto soluça lento
No leque da carnaúba.
João Batista de Siqueira (Cancão)
Poesia tirada do livro; “Palavras ao plenilúnio” de Lindoaldo Jr.
CANTIGAS E CANTOS
Nenhum comentário:
Postar um comentário