terça-feira, 28 de junho de 2016

Poesia: O improviso de Ivanildo Vilanova e Geraldo Amâncio


*Ivanildo Vila Nova e **Geraldo Amâncio

Quando canto vejo a negra
Claridade do luar
Vendo a flor colhendo beijos
Dos lábios frios do ar
E a praia enfeitando os fios
Do lençol verde do mar*

Sinto a aurora brotar
No formato de miragem
Em cada curva da estrada
Há um leque de paisagem
Abanando as tranças verde
Dos cabelos da folhagem**

Dançando eu vi a imagem
Do filme de Deus coloca
Onde o sol por generoso
Cria, aquece dia, e foca (*)
É quem dá tudo de si
E nada recebe em troca*

Quando o maio se coloca
É mais bonito o sertão
A floresta se ornamenta
De rosa, flor e botão
E as flores brancas à noite
Parece estrelas no chão**

O sopro da viração
Deixa impressão de perfume
Os últimos raios da tarde
Pincelam cristas do cume
Entregam crepúsculo negro
Aos faróis do vaga-lume*

Há espirais de perfume
Na mãos cálidas do mormaço
As nuvens do firmamento
Se desmanchando em pedaço
Parece um leque de bruma
Na concha azul do espaço**

Terra que assiste o cansaço
Do passo do retirante
Quando as rajadas cruéis
De uma seca horripilante
Tange a poeira dos rastros
Do camponês emigrante*

Pingo de orvalho brilhante
Na floresta da masquina
O pirilampo, um arcanjo
Da lanterna bentilina
A água cristal eterno
Na galeria divina**

Seguir de Deus a doutrina
É dever da criatura
Semeia grãos de virtude
E aguarda a safra segura
Plantando a semente boa
E colhe a espiga madura*

Respeito as leis da altura
Na torre do esquecimento (*)
Viajo o barco dos anos
Com o seu carregamento
Pedras que são extraídas
Nas minas do sentimento**

E a voz do pensamento
Transforma o sonho em cadência
Cantando o lírio dos campos
Dos frutos, a culta essência
A substância abstrata
Nos sonhos da inocência*

Onde não foi a ciência
Onde ficou a bonança
A viola é o piano
Que toco desde criança
Sonorizando saudade
Nos teclados da lembrança**

Nos planos que a rima alcança
Tendo a vida por irmã
De noite ilusão perdida
De dia esperança vã
Castelos de pedra hoje
Sonhos de areia amanhã*

Na neve da cor de lã
Na minha ilusão de infante
Há um castelo de estrela
Nas barras do meu levante
Que não brilharam até hoje
Brilharão daqui por diante**

Vou voando a todo instante
Para alcançar outro império
As formas de um mundo novo
As luzes de outro hemisfério
Rompendo a marca invisível
Desse profundo mistério*

Por ter notas de saltério
O improviso é um santo
Na vida corta as fronteiras
Em sonhos cresce outro tanto
Se transporta sem andar
E voa sem sair do canto**

Como um rugido de espanto
Do tiro da belonave
O fogo apartando a nuvem
O eco espantando a ave
Rompendo o sossego aéreo
Do infinito suave*

Deus a ninguém deu a chave
Desse edifício perfeito
Mar gigante, terra enorme
Céu infindo, bosque estreito
Fez tudo e não veio ainda
Dizer porque tinha feito**

Do rio estuário e leito
Da fruta o tempo e a vez
Ano longo dia curto
Semana, estação e mês
Ele fez tudo mas pode
Desfazer tudo o que fez*

Manda em tudo o rei dos reis
No raio que do céu desce
Tempestade de desaba
Terremoto que estremece
Em tudo está sua mão
E o homem não reconhece. **

*Ivanildo Vila Nova e **Geraldo Amâncio.

- Quando canto vejo a negra* (Ivanildo cantou assim)
 - Na dor do esquecimento (Geraldo cantou assim).
- Sonhos de areia amanhã (Contribuição Grupo Epokhé pela intelecção, valeu!)
- Cria, aquece dia, e foca (Conforme entendi, com minhas dúvidas.)


Fonte: Decanto de Poetas

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