Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem não capinou de enxada
Roçando os pés em urtiga
Ou picado por formiga
A jiquitaia chamada
Quem não levou ferroada
De abelha de ferrão
Que causa logo inchação
E uma dor tão desmedida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Roçando os pés em urtiga
Ou picado por formiga
A jiquitaia chamada
Quem não levou ferroada
De abelha de ferrão
Que causa logo inchação
E uma dor tão desmedida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem não calçou
"currulepe"
Uma chinela de couro
Feita da pele dum touro
No tempo que era moleque
Que protegia de estrepe
Por baixo, por cima não
Era pouca a proteção
Dessa "alpercata" curtida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Uma chinela de couro
Feita da pele dum touro
No tempo que era moleque
Que protegia de estrepe
Por baixo, por cima não
Era pouca a proteção
Dessa "alpercata" curtida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem nunca jantou xerém
Com leite ou com carne assada
Ou então uma umbuzada
Boa comida também
Não sabe o sabor que tem
A rabada de um barrão
Um guisado de capão
E uma coalhada escorrida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Com leite ou com carne assada
Ou então uma umbuzada
Boa comida também
Não sabe o sabor que tem
A rabada de um barrão
Um guisado de capão
E uma coalhada escorrida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem nunca usou um machado
Pra derrubar aroeira
Ou lavrar uma madeira
Um mourão bem trabalhado
Pra fazer curral de gado
Pro tempo de apartação
Ferrar gado do patrão
Da pele criar ferida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Pra derrubar aroeira
Ou lavrar uma madeira
Um mourão bem trabalhado
Pra fazer curral de gado
Pro tempo de apartação
Ferrar gado do patrão
Da pele criar ferida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem nunca vestiu um
"terno"
Perneira, chapéu, gibão
Que não é confecção
Dessa do tempo moderno
Mas um vestuário eterno
Pra se pegar barbatão
Montado num alazão
Na caatinga ressequida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Perneira, chapéu, gibão
Que não é confecção
Dessa do tempo moderno
Mas um vestuário eterno
Pra se pegar barbatão
Montado num alazão
Na caatinga ressequida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem nunca se apaixonou
Por uma linda matuta
Cabocla mimosa, astuta
Que o pé de serra gerou
Trabalhando se criou
Cuidando da plantação
Cozinhando no fogão
Com vestimenta encardida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Por uma linda matuta
Cabocla mimosa, astuta
Que o pé de serra gerou
Trabalhando se criou
Cuidando da plantação
Cozinhando no fogão
Com vestimenta encardida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem nunca viu na janela
A filha do fazendeiro
Homem de gado e dinheiro
De longe acenou pra ela
Sonhou ser marido dela
De pedir a sua mão
De enfrentar o seu patrão
Se não fosse concedida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
A filha do fazendeiro
Homem de gado e dinheiro
De longe acenou pra ela
Sonhou ser marido dela
De pedir a sua mão
De enfrentar o seu patrão
Se não fosse concedida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem não chupou melancia
Na roça do seu vizinho
Nela fez um quadradinho
Pra tirar uma fatia
Deixou a caligrafia
Impressa com um facão
Mostrando que o "ladrão"
É gente bem conhecida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Na roça do seu vizinho
Nela fez um quadradinho
Pra tirar uma fatia
Deixou a caligrafia
Impressa com um facão
Mostrando que o "ladrão"
É gente bem conhecida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem nunca ouviu cantoria
Feita no pé de parede
Não se balançou em rede
Não lavou pé em bacia
Nem se assustou quando ouvia
Estórias de assombração
Não andou com um rasgão
Ou com calça descosida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Feita no pé de parede
Não se balançou em rede
Não lavou pé em bacia
Nem se assustou quando ouvia
Estórias de assombração
Não andou com um rasgão
Ou com calça descosida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem foi que nunca dançou
Numa sala rebocada
E às tantas da madrugada
O candeeiro apagou?
Uma briga começou
Bem no meio do salão
Faca riscando no chão
Bala zoando perdida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Numa sala rebocada
E às tantas da madrugada
O candeeiro apagou?
Uma briga começou
Bem no meio do salão
Faca riscando no chão
Bala zoando perdida
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem viu tachos na fervura
Conhece o que é moagem
Quem ouviu a estalagem
Da moenda em cana dura
Viu fabricar rapadura
Com animais de tração
Botou mel em garrafão
Fez "puxa" e comeu "batida"
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
Quem ouviu a estalagem
Da moenda em cana dura
Viu fabricar rapadura
Com animais de tração
Botou mel em garrafão
Fez "puxa" e comeu "batida"
Não sabe nada da vida
De quem nasceu no sertão.
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