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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

domingo, 5 de abril de 2015

MPB: Gal, 50 anos de carreira: mutante e eterna

Em entrevista, a cantora fala sobre o show comemorativo que traz ao Recife e o novo disco com uma canção de Lirinha e Junio Barreto


Gal em registro dos anos 1980: a voz mais cristalina do País / Arquivo JC

Gal em registro dos anos 1980: a voz mais cristalina do País

Arquivo JC


Mutante apegada à perenidade que sempre foi, da “joão-gilberto-de-saias” à guerrilheira tropicalista, da guardiã do repertório estrutural brasileiro à musa de sexo exposto em Índia, Gal é como o nômade que caminha nas areias para nunca sair do deserto. Prestes a completar 70 anos de idade e 50 de carreira, Maria da Graça Costa Penna Burgos passa pelo Recife no próximo dia 18 de abril com o show celebrativo dessas cinco décadas em que tem sido várias para permanecer essencialmente a mesma: a dona do lugar (nem sempre unânime) de maior cantora do Brasil.

Como na canção que ganhou de Roberto, musa, sempre, de qualquer estação, ela traz à cidade um dos dois projetos que encampa este ano, depois dos voos ousados que provocaram antes estranhamento e depois arrebatamento no disco/show “eletrônico” Recanto. Recife assistirá a uma das apresentações de Espelho d'Água, um explosivo espetáculo intimista em que se faz acompanhar apenas do violonista e guitarrista carioca Guilherme Monteiro. O show é um recorte de standards da própria carreira – não apenas pedras seguras como  Folhetim, mas pepitas há muito não lembradas como a versão grandemente psicodélica de Tuareg, de Jorge Ben, gravada nos anos 1970.



 “Esse show acústico, mais intimista, sempre existiu. Na época que estava com turnê do Recanto, alternava-a com shows do acústico. Era uma forma de levar minha música em outros formatos, para espaços menores que não comportavam a banda completa. Resolvi mudar todo o repertório e criar algo novo para esse formato. Estava cansada do que vinha apresentando. Convidei o Guilherme para estar comigo no palco, já que ele já vinha substituindo um dos meus músicos na turnê Recanto, e nos demos muito bem”, diz Gal, numa entrevista exclusiva ao JC a partir de São Paulo, cenário e CEP atual de sua baianidade de origem. “Amo São Paulo com todo meu coração e com certeza isso me influencia na música. É o lugar que escolhi para morar com meu filho e acredito que isso tenha um grande peso em minhas escolhas também como artista”.




A cantora vive, novamente, vida dupla. Além de Espelho d`água, circula com um show dedicado exclusivamente a Lupicínio Rodrigues. Com arranjos modernos e uma banda que tem Pupillo, da Nação Zumbi, na bateria, o show não virá ao Recife. Patrocinado por uma grande empresa de cosméticos, vai correr sete cidades para celebrar o centenário do gaúcho compositor de Volta,canção, aliás, de registro definitivo na voz de Gal.

“Por enquanto não (há possibilidade de o show vir à cidade). Depois, começo o lançamento do novo disco e da turnê dele. Para esse projeto, procurei revestir as canções com arranjos modernos e mais parecidos com o que faço hoje. Gosto de imprimir a minha personalidade como cantora nas canções dele, como em qualquer canção que canto”, diz Gal, conhecida por dar sugestões e adaptar arranjos ao seu modo em estúdio.



Se vinha recebendo petardos da crítica pelos discos corretos demais, conservadores nos arranjos demais, burocraticamente distanciados de pequenas revoluções como Fatal (1972), Cantar (1974) e Água viva (de 1978, auge do cristalino de sua voz), Gal, como o grande nômade que se reassume vitorioso no deserto, mudou o rumo com Recanto (2011)


No disco pensado por Caetano, as estranhezas eletrônicas dos arranjos de Kassim a fizeram uma espécie de Björk educada por Caymmi e Jobim novamente inebriada pela sanha antropofágica tropicalista. Esse espírito parece guiar os novos passos da cantora, mesmo os aparentemente mais comedidos.

Sem bateria, eletrônicos, percussão, metais, telões e outros badulaques tecnológicos hoje obrigatórios em shows, o show Espelho d`água tem na força da voz madura de Gal, agora amparada nos tons mais médios, seu grande motor. O repertório é aberto com Caras e bocas, uma parceria rara de Caetano e Bethânia que deu nome ao disco homônimo de 1977. Um álbum, aliás, ligeiramente renegado pela cantora em algumas entrevistas nos anos 1990, quando comentou que, se pudesse, teria impresso arranjos diferentes.



Gravado ainda na fase de musa hippie pós-tropicalista, o disco tem, agora, cinco de suas canções incluídas no repertório de 18 temas do show (fora o bis, com Meu Bem, meu mal, Força estranha e Modinha pra Gabriela).

Além da hormonal-existencialista Tigresa, ela pinçou de Caras e bocas temas conhecidos apenas por fãs com memória de bibliotecário como as teatrais e intimistas Solitude,  o clássico de Duke Ellington em versão de Augusto de Campos;  Um favor, de Lupicínio; e Negro Amor, versão de Caetano e Péricles Cavalcanti para essa que é uma das canções de Bob Dylan com força de síntese de uma geração. Uma interpretação afiadíssima, de uma voz só lâmina, embora ainda sentamos falta da gaita folk da gravação no disco.

Residente em Nova Iorque e parceiro de nomes como Ron Carter, o guitarrista Guilherme Monteiro deu a Gal a segurança para reimprimir uma peça já consagrada em qualquer antologia da música brasileira. Com ele, a cantora encerra o show refazendo, voz madura e menos aguda, o dueto com a guitarra de Robertinho do Recife em Meu nome é Gal. “Eu o conheci quando ele substituiu o Pedro (Baby, guitarrista oficial da banda) em uma apresentação de turnê Recanto. Durante os ensaios, ele fez essa cama que qualquer cantora gosta”, diz a cantora que, há 50 anos atrás, ainda sob o nome de Maria da Graça, gravava seu primeiro compacto. De um lado, Eu vim da Bahia, de Gilberto Gil; do outro, Sim, foi você, de Caetano. Depois, o passaporte para se tornar, ao lado de Billie, Bethânia, Nana, Sarah e Ella, uma das grandes vozes fornecidas pelo século 20 ao Ocidente.

O NOVO DISCO   
Depois da estrada, a estrada mais uma vez: assim que encerrar as turnês dos dois shows atualmente em cartaz, Gal Costa sai de casa para mostrar o novo álbum. Com produção musical de Moreno Veloso e Kassim, Estratosférica pode ter os minimalismos, sintetizadores e bases pré-construídas presentes no Recanto que acabou por render a Gal alguns prêmios de melhor show do ano em sua estreia. Mas a cantora já sinalizou que se tratará de um álbum mais “pop”



É, aliás, do pernambucano Junio Barreto cuja Santana já fora gravada por Gal em Aquele frevo axé) a canção Estratosférica que dá nome ao novo disco da baiana. “Gal tá surpreendente nesse CD, bem forte. Me lembra coisas do tropicalismo. Vai ser um dos melhores dela em anos”, diz ele que, a pedido da cantora, prefere não falar sobre a letra de Estratosférica.

Com a sonoridade definida por Moreno Veloso e Kassim, e Pupillo em todas as baterias, o lançamento deve acontecer até o final de abril. É um disco comercialmente corajoso. Traz 16 canções rigorosamente inéditas de compositores, se não rigorosamente novos, de gerações posteriores à sua. “Adoro trabalhar com gente nova”.

Entre as faixas, Amor, se acalme, é uma parceria de Marisa, Arnaldo Antunes e Cezar Mendes. Diretor do show atual de Gal, o jornalista paulistano Marcus Preto fez a direção musical do disco. Acabou por encomendar ao também pernambucano Lirinha uma canção.
Feita numa madrugada paulistana com Bactéria e Junio Barreto, Jabitacá fala de uma uma flor encontrada na região da Serra do Jabitacá, perto de Sertânia.
“Gal é aquela voz com que nós, quando compomos, sonhamos. Gal é uma das melhores do mundo, sem dúvida alguma, com um domínio técnico e uma interpretação muito apaixonada, o que faz dela uma das cantoras mais incríveis e enigmáticas”, diz Lirinha, ainda mais animado em compor para outras grandes vozes. “Estou compondo independentemente se a música vai para um disco meu ou não”.

Bruno Albertim

JConline

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