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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

ROMANCE: Chico Buarque faz narrativa sobre meio-irmão desconhecido

Na sua quinta narrativa longa, intitulada O irmão alemão, o escritor brinca com semelhanças entre personagens e sua vida


 / Foto: Divulgação

Foi o poeta pernambucano Manuel Bandeira quem cometeu a indiscrição. Chico Buarque visitava sua casa ao lado de Vinicius de Moraes e Tom Jobim quando o autor de Estrela da manhã fez uma referência casual a um tal de “filho alemão do seu pai”. O escritor e cantor nunca esqueceu a história desse irmão perdido, fruto de um curto relacionamento do historiador Sérgio Buarque de Holanda com uma jovem alemã, Anne Ernst, antes mesmo de conhecer a mãe de Chico.

No quinto romance de sua carreira, ele parte dessa informação – tão pontual e tão marcante – para criar a trama da obra. O irmão alemão (Cia. das Letras, 240 páginas, R$ 39,90) é, então, uma ficção com saborosos traços da vida e da biografia de Chico e da sua família. Ao mesmo tempo, é uma narrativa angustiante sobre a procura por um desaparecido sobre o qual não se pode perguntar.

Chico Buarque não costuma mais falar à imprensa brasileira sobre seus livros ou mesmo sobre sua música. Ironicamente, no novo livro, resolve expor-se de uma forma singular: homenageia os pais sem criar um relato biográfico, fala de histórias familiares sem se ater a uma série de fatos, transforma-se em personagem sem deixar o personagem se confundir com o autor. É um livro que diz muito sobre Chico, mas não através de uma confissão direta. É justamente por poder usufruir desse jogo entre dados reais e ficção que consegue dar tantos detalhes curiosos de sua vida sem fazer do resultado um diário ou um relato cheio de fofocas.


A trama é contada em primeira pessoa por Francisco de Hollander, o Ciccio. Logo no primeiro capítulo, surge o mistério do irmão alemão, através de uma carta encontrada em meio a um livro da biblioteca do pai – aliás, a visão desse Sergio de Hollander distante, que finge não ver o interesse do filho pelas suas estantes, que se nega a trocar com ele mais do que palavras banais e que vive a partir e para a sua biblioteca, é um dos pontos mais sentimentais e bonitos da obra. Na obra, Ciccio tem apenas um irmão brasileiro (ao contrário dos seis na realidade), o galanteador Domingues – ou Mimmio, para a mãe italiana, Assunta –, e está sozinho nessa busca pelo passado.


Se Chico descobriu o verdadeiro paradeiro do irmão através de investigadores indicados pela Companhia das Letras – e dizer mais do que isso talvez revele demais a história –, quando já havia começado a narrativa e estava emperrando nela, na ficção tudo acontece diferente. Desde jovem Ciccio é obcecado pela história: provoca o pai na mesa de jantar, bisbilhoteia as cartas que acha nos livros da casa e vai até atrás de um pianista alemão radicado no Brasil.

Essa investigação é recheadas de ilusões sobre os encontros com o irmão alemão e pesadelos, mas O irmão alemão se desenvolve para além dela. Ciccio sente um ciúme estranho do irmão – todas suas conquistas são, na verdade, garotas com que Mimmio já dormiu – e vê a ditadura intervir na vida dos seus amigos e na sua casa. As cartas reais trocadas pelo pai com a antiga namorada e com o governo alemão sobre o destino do filho perdido aparecem ao longo de toda a obra. Sérgio precisou, por exemplo, provar que o garoto não tinha nenhuma herança judia para que a criança fosse encaminhada para a adoção.

O nazismo, que pode ter perseguido seu meio-irmão e a mãe dele, e a ditadura, que faz o mesmo com vários conhecidos, são as formas do terror na obra. Chico recria com sutilezas a sensação de tentar encontrar alguém desaparecido quando não se pode perguntar a ninguém, quando tudo é tabu, distância e opressão. Enquanto não se sabe o paradeiro dele, tudo é possível, menos finalmente aceitar o sumiço, parece concluir o romance.

Os livros de Chico, mesmo quando premiados e elogiados pela crítica, costumaram a ser olhados com desconfiança. Talvez O irmão alemão seja o ponto em que se possa enxergá-lo como um escritor a partir só dos recursos da sua ficção – cinco romances e uma novela são mais do que suficientes para se ter uma boa noção da sua prosa, sem precisar fazer referência a letras, melodias e fama na música.

O autor de Budapeste e Leite derramado encontra aqui mais um modelo envolvente para contar a história. O misto de ficção e traços biográficos é irresistível para quem conhece sua trajetória de alguma forma, e a sorte é que o romance se sustenta para além disso. Para usar um termo tão recorrente nos últimos tempos, a autoficção de Chico também não o expõe demais: como ele já mostrou diversas vezes em entrevistas, seu gosto por inventar – com humor, muitas vezes – a sua própria biografia permite que seu personagem seja revelador e falso, um minilabirinto dentro do romance.

O próprio Ciccio cogita em certo momento que talvez o seu irmão alemão também esteja escrevendo um romance sobre o pai que não conheceu, fantasiando-o tanto como o personagem brasileiro faz. O leitor participa de uma investigação em conjunto com o narrador, de uma história de detetive em que o principal elemento é a imaginação. Salvo o porém do excesso de tramas paralelas e personagens menores, que não comprometem a trama, Chico compõe a obra com passagens bonitas, especialmente quando fala do pai, mostra a solidão da mãe ou projeto o irmão ausente. O irmão alemão é uma narrativa que é sincera e artificiosa de uma só vez: um livro inquietante, feito de vida e ficção.

Diogo Guedes

JConline

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