Você pode nem ser fã de Skank, mas vai lembrar de versos como "Me sinto tão / me sinto só / me sinto tão seu", "Te ver e não te querer / É improvável, é impossível", "Sei que amores imperfeitos / São as flores da estação" e "Mesmo que a gente se separe por uns tempos / Ou quando você quiser lembrar de mim / Toque a balada do amor inabalável / Swing de amor nesse planeta".
A banda mineira Skank é referenciada por um som realmente "pop", ora cheio de swing, bebendo do reggae e do ska; ora dramático e soturno, dialogando com o rock e o blues.
Quanto às letras (a maioria delas assinada pelo vocalista, Samuel Rosa), assim como alguns medalhões da música pop nacional - Lulu Santos e Nando Reis, por exemplo - o Skank é reconhecido por investir em jogos de palavras, mas sem esquecer da emoção, garantindo frases certeiras, com as quais o público se identifica.
"Velocia", novo disco de inéditas do grupo, peca justamente nesses dois aspectos: a sonoridade é fraca de experimentações, alegrinha, litorânea, mas constante demais ao ouvido; e, nas letras, o grupo se prende à sonoridade das palavras e se esquece do sentido, do apelo emotivo.
As primeiras críticas ao álbum chegam a afirmar que o grupo retorna a suas raízes. Uma verdadeira heresia. "Skank", independente gravado em 1992, "Calango" e "O Samba Poconé", seus primeiros discos, eram cheios de tempero, de um calor brasileiro. No novo disco, não há nada como "In(Dig)Nação", "Esmola", "Te Ver", "Tão Seu" ou a indefectível "Garota Nacional".
A única música de protesto do disco, "Multidão", tem uma levada paradona, um reggae arrastado demais para o tema, pouco condizente com a letra (também repetitiva) e com o rap de BNegão. Fazendo uma ressalva, há, talvez, em "Velocia", algo de "Jack Tequila". "Alexia", música que abre o disco, tem, sim, a cara do Skank: swing, jogo de palavras e a homenagem a uma mulher. Em vez de Jack-Tequila-Coca-Cola-E-Água, a meio-campista Alexia Putellas Segura, de 19 anos.
A jogadora da equipe feminina do Barcelona fez, na última Copa da Rainha, na Espanha, um gol digno de Messi, inspiração para a música.
"Muita gente acha que estamos fazendo apenas uma alusão a Messi, comparando ele a Jimi Hendrix, na letra. Não é uma homenagem a ele, mas sim à Alexia. Ficamos sabendo do golaço que ela fez e, como somos muito ligados em futebol, resolvemos fazer algo pra ela. O resultado ficou excelente", afirma o baixista Lelo Zaneti, em entrevista ao Caderno 3.
Outra canção do disco que traz alguma identidade do Skank é "Esquecimento", sexta faixa. Principalmente por que é a única com alguma carga dramática e letra clara, direta. "Nessa música, sentimos que faltavam cordas, metais, uma coisa sofisticada. E aí, com algumas ligações, conseguimos um arranjador em Abbey Road, Londres. Rob Mathes foi sensacional", explica o baixista. A banda já havia gravado em Londres, em 1998, durante o disco "Siderado". "Realmente, aquele é o grande estúdio do mundo".
Parcerias
De acordo com Zaneti, "Multidão" foi a primeira "a nascer" e "Rio Beautiful" a última. Em ambas, o grupo conta com parceiros: a letra de "Multidão" resulta de uma parceria de longa data na família Skank: Samuel Rosa e Nando Reis. Além de frases do rapper B Negão. Já "Rio Beautiful", divide o batismo entre Samuel e Emicida.
"'Velocia' resume bem esse disco. Velocia remete a tempo e o tempo traz uma qualidade ao trabalho. Não existiu uma pressão para que lançássemos antes. Queríamos que esse novo trabalho acontecesse naturalmente. E assim foi: foram dez meses de estúdio até ficar tudo pronto", detalha e defende Zaneti.
No entanto, particularmente, não sei se é possível concordar que, nesse disco, o tempo foi um bom amigo. "Rio Beautiful" é mais do mesmo: som litorâneo, lentidão, um coro na voz de Samuel que se repete em várias canções anteriores.
E a tão salutar parceria Samuel e Nando - que deu a luz a "Resposta", "Dois Rios", "Ainda Gosto Dela" e "Sutilmente" - parece que desandou. É difícil não sentir falta das letras de Samuel com Chico Amaral, presente nesse álbum apenas em "A Noite". Deles dois, sim, nasceram os melhores hits: "Jackei Tequila" (Calango), "Três Lados" (Maquinarama), "Amores Imperfeitos" (Cosmotron), "Vou Deixar" (Cosmotron), "Uma Canção é Para Isso" (Carrosel) e outras tantas.
Contudo, não se pode resumir o insucesso do disco às parcerias, quando sequer nos arranjos a banda inovou. Ao perguntar sobre a influência de terceiros na criação do Skank, Lelo foi enfático: "a influência é zero, nem gravadora, nem parceiros definem o produto final. Na verdade, quanto às parcerias, as bases e os arranjos das músicas já chegam prontinhos para receber a contribuição deles".
Apesar do fraco resultado sonoro, a banda acertou em cheio nos detalhes. Vale ressaltar a beleza da capa e das aquarelas produzidas para o encarte pelo desenhista Oriol Angrill Jordà. Segundo Lelo, o ilustrador foi encontrado pelo empresário da banda, Fernando Furtado. "Mandamos umas fotos nossas e ele fez esse trabalho super sofisticado. Ficamos bem satisfeitos", afirma Zaneti. Segundo o baixista, os shows de lançamento do disco só acontecerão em setembro. Fortaleza é uma possível cidade nesse circuito. "Ainda não sabemos de nada, mas gostamos muito de Fortaleza, então é uma aposta", adianta.
Disco
Velocia
Skank
Sony music
2014, 11 faixas
R$ 19,90
Mayara de Araújo
Repórter
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