Luiz Gonzaga e as festas juninas.
Seguindo a etimologia, temos duas hipóteses para a origem do termo ‘’junino’’: ou do próprio São João, nome de um dos santos homenageados no período, ou do mês em que as festas são celebradas pelo mundo. Seguindo sua origem europeia, as fogueiras fazem parte da antiga tradição pagã de celebrar o solstício de verão no hemisfério norte (no hemisfério sul, é o início do inverno). A Igreja vinha se esforçando desde o século XIV para doutrinar a população da Europa Ocidental, ainda acostumada aos rituais pré-cristãos como, por exemplo, os cultos solares e lunares para uma vida agrícola próspera. A diferença entre as estações é bem explícita no chamado solstício de verão (dia com maior duração da luminosidade do sol: 21 de junho) e com solstício de inverno (dia menos beneficiado pela luz solar: 21 de dezembro), seis meses depois. Entre os mais importantes cultos, registrava-se a queima noturna de fogueiras no solstício de verão, para festejar a vitória da luz e do calor sobre a escuridão e o frio. A Igreja Católica adotou esses marcos cósmicos, atribuindo aos primos João e Jesus dois momentos de honra para seus nascimentos: o primeiro, perto do solstício de verão; o segundo, perto do solstício de inverno. Era uma maneira de dar novo significado às práticas pagãs relativas ao fogo.
Vinda desses resquícios dos tempos pagãos, a fogueira foi incorporada à festa de São João Batista, santo louvado nessa mesma época (principalmente na Idade Média). Até hoje, a fogueira de São João é o traço comum que une todas as festas europeias no mês de junho. Uma lenda católica cristianizando a fogueira pagã afirma o antigo costume de acendê-las no começo do verão europeu. A história diz que na Anunciação, o arcanjo Gabriel apareceu para a Virgem Maria, comunicando sua gravidez pelo Espírito Santo. Também informou de que Isabel, prima, já estava grávida de seis meses. Isabel mandou acender uma fogueira no topo de um monte para avisar Maria sobre o nascimento de João.
O Nordeste tem em sua religiosidade uma forma peculiar de enfrentar os problemas, principalmente os da seca, do descaso público ou da violência. Na ausência do Estado, a fé tornar-se-á importante fator da sobrevivência na terra esquecida. Apegado com Santo Antônio, São José ou até Santa Maria, o sertanejo e o nordestino de forma geral tem um santo preferido para suas orações, o que não era diferente para o rei do baião. Luiz Gonzaga era devoto de São João do Carneirinho, o santo que move toda paixão nordestina nas festas juninas no nosso querido Nordeste. Lua compôs músicas retratando a festa popular e homenageando a tríade santa junina, embora São João fosse preferência pessoal. E não era à toa: Até hoje, as músicas de Luiz com temas altamente juninos são obrigatórias em quadrilhas, festas, reuniões ou qualquer movimento popular temático nesse período.
São João Batista ou São João do Carneirinho (quando retratado como uma criança) é um dos santos mais conhecidos e festejados pelo povo nordestino. Filho de Zacarias e Isabel, João era primo de Jesus Cristo, a quem lhe deu a missão de preparar o caminho para o ‘’messias’’. O santo é comemorado no dia 24 de junho, data do seu nascimento, também lembrado no dia 29 de agosto, data provável de sua morte: É protetor dos casados, enfermos e considerado o santo mais próximo de Jesus. Também era primo de Cristo e o batizou nas margens do Rio Jordão.
Voltando à música, é importante salientar como essa religiosidade do povo nordestino esteve/está presente nas músicas de Luiz Gonzaga. São João foi um foco de inspiração para suas melodias e letras. O fato de decantar em forma de devoção o ‘sagrado batista’ nas festas populares não só ajudou a fortalecer as festas juninas ou como divulgar o santo. Esse fato foi essencial na carreira de Luiz, dando uma importância vital na vida do rei do baião.
É inegável o papel de São João até na economia e cultura do Nordeste. Cidades, bairros, residências e ruas louvam o período com alegria, cores bandeiras e fogueiras. Junto com Santo Antônio e São Pedro, um toque especial povoa as festas com muita comida típica à base de milho, bacamarteiros, bandas de pífanos, quadrilhas, ruas enfeitadas e muito forró, baião e xaxado, ritmos das obras de Gonzaga sempre presentes.
Explica-se também a religiosidade na obra de Gonzagão pelos caracteres que carrega o homem nordestino da região sertaneja. Todos tem um ‘’santo de cabeça’’. E com o rei, não poderia ser diferente. Dentro de casa, viu a devoção e a música se misturarem, dando uma forte ajuda na formação do talento do filho de Januário. Enquanto o pai arrumava as sanfonas quebradas, Santana cantava as novenas do início do mês mariano até o fim das festas juninas. Mesmo sem saber ler, cantava em latim. Luiz juntava a poesia à reza e o canto de fé à poesia.
Músicas como ‘’Fogueira de São João”, “São João na Roça”, “Olha pro Céu”, “Pedido a São João”, “Dia de São João” ou “A Noite é de São João” lembram a vida e a devoção do povo nordestino pelo primo de Jesus. Em 1965, Luiz gravou um disco clássico para toda a MPB e a cultura regional: o maravilhoso ‘’Quadrilhas e Marchinhas juninas’’. Todo bom arraial merece ter esse disco.
Se os Beatles gravaram um ‘’Abbey Road’’, o Deep Purple um ‘’In Rock’’ ou o Black Sabbath um ‘’Vol.4’’, existiu um sanfoneiro - vindo do Riacho do Rio Brígida - que gravou sua pedra fundamental para a história.
Baixe ‘’Quadrilhas e Marchinhas juninas’’:https://mega.co.nz/#!fBx20SSC!EJxjPWJSGA7_SelvNvaDa0V2Hdh3nIFG4I12-F12AvA.
*En arrière! En avant tous! (*Anarriê! Alavantú!)
Viva o Nordeste!

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