
Nos tempos de menino
Era o caminho da roça
A pureza de Maria
A folha verde no mato
A chuva, quando caí
Passarim, rio, regato
A natureza sorria
Era o beijo que eu cultivava
A vida que eu bem queria
Do jeito que eu sonhava
Realmente acontecia
Queria um fruto, plantava
Vingava o fruto, eu comia
Da morte eu não tinha medo
A morte eu não conhecia
Não tinha nenhum segredo
Andar no mato sem guia
Nunca era tarde nem cedo
Meia noite ou meio dia
Fui menino mais que sete
Ou ‘dezessete légua e meia’
Menino fui cassetete
Sangue de fogo na veia
Bola de gude, pivete
Menino bola-de-meia
Fui menino meia-noite
Menino fui meio-dia
Menino vento de açoite
Fui o ventre da folia
Menino trovão da noite
Fui chuva, fui invernia
Fui menino pistoleiro
Menino caramanchão
Menino fui sapateiro
Menino, carro de mão
Menino fui cangaceiro
Menino fui Lampião
Virgílio Siqueira
Do Livro: Poeta, cidadão-comum - de 1997
Nenhum comentário:
Postar um comentário