quinta-feira, 18 de julho de 2013

Tributo » Antes do centenário de Dorival Caymmi, filhos e neta lançam disco e livro

Centenário do músico, morto em 2008, ocorre em 30 de abril de 2014
  (Futura Press/Divulgação )
Ao lado da cama, bem na cabeceira, Dorival Caymmi mantinha quatro livros: a Bíblia, Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, Cândido, ou O otimismo, de Voltaire, e Conservai a mocidade, de Victor Pauchet. Quem conta é a neta do compositor baiano, a jornalista e pesquisadora Stella Caymmi, autora da biografia O mar e o tempo, lançada em 2001. Ela fez entrevistas com o avô, morto em 2008, ao longo de 25 anos, o que resultou em 85 horas de gravações. Parte do material vem, agora, a público no livro O que é que a baiana tem? — Dorival Caymmi na Era do Rádio, em que Stella narra, sob a ótica dele, a chegada do artista ao Rio de Janeiro, em 1938, assumindo grande importância na vida cultural do país.

A publicação faz parte de uma contagem regressiva para o centenário de Caymmi, a ser comemorado em 30 de abril de 2014, e que traz à tona outra homenagem familiar: o disco Caymmi, gravado pelos herdeiros Nana, Dori e Danilo. Filha de Nana, primeira neta e confidente de Dorival, a falante Stella conta e cantarola, orgulhosa, que o avô fez uma música para ela, Canção da primeira netinha. Nascida em Caracas e moradora de Copacabana, a doutora em Literatura Brasileira pela PUC-Rio é autora também deCaymmi e a Bossa Nova, de 2008.


O que é que a baiana tem?, classificado como um ensaio crítico, nasceu como tese de doutorado. A história começa quando Caymmi, sem conseguir emprego em Salvador, muda-se para o Rio com o objetivo de cursar direito. Aproxima-se de jornalistas e pintores, e, só depois, de músicos, como Mário Lago e Braguinha. Logo estreia profissionalmente na Rádio Tupi. O estouro acontece quando Carmem Miranda aparece no filme Banana da terra, de 1938, cantando O que é que a baiana tem?. "Quando ele fica famoso, passa a ser uma pessoa influente como artista e é cortejado por todo mundo: imprensa, governo, esquerda, fãs, compositores…"

A pesquisa de Stella descortina passagens essenciais do início da comunicação de massa no país, e trata de temas como direito autoral e editoração de músicas. "Existe uma mítica que apaga um pouco as dificuldades nos bastidores da Era do Rádio. Meu avô, por exemplo, não era dono de várias das canções dele. Teve que brigar na justiça", contextualiza. "O livro revela um lado do período, do ponto de vista musical, que foi pouco explorado".

A biografia de Caymmi, indicada ao Prêmio Jabuti em sua categoria à época da publicação, deve ser relançada, em edição menor e mais em conta. Stella tem mais planos para celebrar os 100 anos de Caymmi: trazer a público um livro apenas com as entrevistas colhidas do compositor. "Ele não fala só sobre a obra dele, mas sobre tudo", diz. Para viabilizar a empreitada — que, para ela, encerra um ciclo —, Stella está atrás das editoras.

Disco
"Este disco é um carinho na cabeça dos velhos, que foram embora e deixaram a gente desorientados". É assim que Dori Caymmi - que vive há 20 anos em Los Angeles - define o recém lançado álbum feito ao lado dos irmãos, Nana e Danilo, pelo centenário do patriarca. Ele refere-se ao fato de a mãe, Stella Maris, ter morrido oito dias após o pai, em 2008. Caymmi, fruto de ampla pesquisa de Dori e repleto de lados B, é um retrato afetuoso de um clã emblemático para a música brasileira — a começar pela capa, um autorretrato de Caymmi. Apesar de sofisticado, paira sobre Caymmi um clima caseiro, descontraído.

SERVIÇOS
O que é que a baiana tem? - Dorival Caymmi na Era do Rádio
De Stella Caymmi. Editora
Civilização Brasileira, 294 páginas.
Preço: R$ 39,90.

Caymmi
CD de Nana, Dori e Danilo
Caymmi. Lançamento Som Livre,
13 faixas. Preço: R$ 24,90

Gabriel de Sá - Correio Braziliense

Nenhum comentário:

Postar um comentário