terça-feira, 23 de julho de 2013

Televisão »Vilões têm lugar garantido na história da teledramaturgia brasileira

 Anti-heróis do passado servem como referência para personagens da atualidade. Relembre os antagonistas mais marcantes
Odete Toitman, da novela  Vale Tudo  (1988), ainda serve como modelo para os anti-heróis atuais (TV Globo/Divulgação)

 Na Idade Média, “vilão” era uma pessoa que não pertencia à nobreza e morava em vilas. Como os camponeses não tinham confiança nos “vilões”, o termo foi recebendo, ao longo do tempo, um sentido pejorativo. Quando se fala da evolução da teledramaturgia brasileira, é quase obrigação falar sobre a vilania na telinha. O mal tem vasto destaque na história das novelas do país. Os vilões abastecem de adrenalina as tramas. Geralmente, são responsáveis por ganchos que atraem a fidelidade do telespectador. Em algumas produções, a essência dos antagonistas dos mocinhos é mais complexa. A construção de anti-heróis varia de acordo com o estilo do autor e costuma acumular referências de produções passadas.

Alguns acontecimentos retomam a vida real e fatos sociais, históricos e políticos da época. “De modo geral, o vilão das novelas brasileiras é construído com base na sociedade. Além disso, todos esses vilões são síntese e reiteração de outros de novelas passadas. Se pegar Carminha (Avenida Brasil) ou Félix (Amor à vida), por exemplo, sempre vão ter elementos de uma Odete Roitman (Vale tudo). Isso é proposital. Mais fácil para o público identificar e se tornar familiar”, analisa o pesquisador José Claudino Bernardino, autor de tese de doutorado sobre os vilões nas obras de três escritores: Sílvio de Abreu, Aguinaldo Silva e Gilberto Braga.

Relembre cena de Odete Roitman em Vale tudo 





De acordo com a pesquisa, o primeiro retrata mais a vilania no cotidiano de São Paulo, como emPassione. Já as características do anti-herói na obra de Aguinaldo são associadas à sede por ascender socialmente. O exemplo foi Senhora do destino. Nas tramas de Gilberto Braga, glamour e luxo fazem parte dos personagens, como em Celebridade. “Vilões conquistam mais sucesso quando dialogam com a sociedade. Não é o caso de Félix, que está distante da realidade e mais dentro do plano da ficção. É um personagem caricato. Inverossímel. Neste caso, a aceitação do personagem por parte da audiência se deve ao ator (Mateus Solano)”, destaca Claudino.

Na pesquisa As telenovelas brasileiras: heróis e mocinhos, da professora Maria Lourdes Motter, da Escola de Comunicação e Artes da USP, a razão mais recorrente da maldade na TV é a vingança. Numa extensa lista, ocupam novelas como Os Inocentes (TV Tupi, 1974), Fera radical (1988), Tieta (Globo, 1989) e Fera ferida (1993).

Carminha, Nazaré e Flora na lista das melhores vilãs (TV Globo/Divulgação)

Curiosidades

Leôncio Almeida
(Rúbens de Falco), em Escrava Isaura (1976), de Gilberto Braga:
Sinhozinho Leôncio herdou os bens da família e era apaixonado por Isaura. Não admitia o fato de não ser correspondido. Como “vingança”, tornou a vida dela um inferno, com castigos e privação da carta de alforria.

Odete Roitman
(Beatriz Segall), de Vale tudo (1988), de Aguinaldo Silva, Gilberto Braga e Leonor Bassères.
É uma das vilãs mais importantes da teledramaturgia e uma das favoritas de críticos e pesquisadores de televisão. Personagem que odeia o Brasil e possui relação de conflito com a filha Helena (Renata Sorrah). Ela foi assassinada na reta final da trama e a pergunta “Quem matou Odete Roitman?” se espalhou pelo país.

Perpétua
(Joana Fomm), de Tieta (1989), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares.
A atuação da intérprete cativou o público. A traiçoeira protagonizou muitas cenas de humor ao longo dos capítulos. Um dos mistérios da trama era o que ela guardava numa caixa branca dentro do armário: o órgão genital do falecido marido.

Nazaré Tedesco
(Renata Sorrah), Senhora do destino (2004), de Aguinaldo Silva.
Ex-prostituta, largou a vida ao se envolver com Luís Carlos Tedesco (Tarcísio Filho) e sequestrar a filha de Maria do Carmo (Suzana Vieira). Com a morte do marido, passa a ser sustentada pela “filha” e se finge de doente. A maldade também aparecia na convivência com Cláudia, filha de Luís, que não a suportava.

Flora
(Patrícia Pillar), de A Favorita (2008), João Emanuel Carneiro.
A trama inovou por não mostrar a vilania logo de cara. A personagem começou como uma mulher doce. Só revelou-se após três meses de trama no ar. O telespectador não sabia se torcia para Donatela (Claudia Raia) ou Flora. A heroína Nina (de Avenida Brasil) foi inspirada na personagem.

Carminha
(Adriana Esteves), de Avenida Brasil (2012), de João Emanuel Carneiro.
Entrou para a história da teledramaturgia. Era uma mulher ambiciosa e fria, que não poupou sentimento de ninguém para atingir o interesse. Traía o marido Tufão (Murilo Benício) com o amante Max (Marcelo Novaes) e abandou a enteada Rita/Nina (Débora Falabella) no lixão.

Diário de Pernambuco

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