| João Cabral escreveu poema histórico sobre Frei Caneca. Foto: CDI/Arquivo/Reprodução. |
Desde pequena, Inez ouvia reclamações do pai sobre
o esquecimento do líder pernambucano, de quem era grande fã. “Dizia que, no
Brasil, só se falava de Tiradentes e, se ele tivesse intimidade com cinema,
faria um filme a respeito de Frei Caneca. Então dei a ideia para ele escrever e
eu transformar em vídeo. Ainda em vida, meu pai viu o projeto e curtiu muito”,
conta Inez. Segundo ela, o longa-metragem não foi rodado por falta de recursos.
O projeto havia sido aprovado sem a trilha sonora (de Jaques Morelenbaum), e
não foi para frente. Agora foi aprovado integralmente.
Antes de morrer, o poeta deixou documento
concedendo os direitos sobre o texto. A carta traz comentário do autor sobre o
projeto: “…parece que [a adaptação] expressará muito bem a essência da mensagem
que quiz (sic) transmitir ao narrar o último dia do mártir pernambucano, tão
erroneamente interpretado fora de sua região”. A obra se chamaria Poema para
vozes (atual subtítulo), mas João Cabral não gostou (“quem vai ver um filme com
um nome desses?”). Ficou O frade.
| Inez Cabral quer equipe jovem e dinâmica para comandar o projeto. Foto: Roberto Ramos/DP/D.A Press. |
Vai
ser uma espécie de mistura de radionovela, mídia ninja, documentário histórico
e espetáculo ‘son èt lumiere’, com mapas e gravuras sublinhando o texto, e com
os atores fazendo parte da trilha de áudio”, revela Inez. Sobre as gravações,
ela antecipa que, para as cenas nas ruas do Recife, pretende convidar grupo de
teatro local, a fim de deixar marcado o sotaque pernambucano.
“Ainda falta decidir a equipe técnica, mas quero gente jovem, com uma linguagem mais dinâmica. Acredito estar em uma posição privilegiada, pois conversei muito com meu pai sobre O frade. Além do mais, o fator genética existe”. O enredo do filme seguirá o auto escrito por João Cabral, enfocando a morte de Frei Caneca, vivido pelo ator paraibano José Dumont (que protagonizou adaptação para o cinema de Morte e vida severina).
Para a cineasta, a distribuição gratuita do longa pode viabilizar a formação de estudantes, democratizar o acesso ao filme, com renovação do público e estímulo à reflexão. Empresas que desejarem investir podem entrar em contato pelo e-mail inezcabral@gmail.com. O longa-metragem terá 70 minutos e orçamento de R$ 577,4 mil. A contrapartida é a inclusão da marca da empresa nos créditos do filme (que circula com 1,5 mil cópias), no DVD e produtos de comunicação ligados ao projeto.
LIVRO
Auto do frade, de João Cabral de Melo Neto
Formato: 12 x 17
Páginas: 104
Preço: R$ 14,90
TRECHO
Formato: 12 x 17
Páginas: 104
Preço: R$ 14,90
TRECHO
A Gente Nas Calçadas.
- Não se parece a este o cortejo
de alguém a caminho da forca.
- Parece mais bem procissão,
Governador que vem de fora.
- Que gente que veio na frente,
bandeira, padres, gente de opa?
- São os irmãos da Santa Casa,
que se diz da Misericórdia.
- Quem são os que passam depois
de roupas sinistras mas várias?
- São os escrivães, mais os meirinhos:
não abrem mão de suas toucas.
- Outros conheço de uniforme,
são da milícia e são da tropa.
- Para que trazer tanta força
contra um frade doente e sem forças?
-Que ninguem de aproxime dele,
Ele é um réu condenado à morte.
Foi contra Sua Majestade,
contra a ordem tudo que é nobre.
Republicano, ele não quis
obedecer ordens da Corte.
Separadista, pretendeu
dar o Norte à gente do Norte.
Padre existe é para rezar
pela alma, mas não contra a fome.
Mesmo vestido como está,
com essa batina de monge,
para receber seu castigo
é preciso que ele se assome.
Que todo o cortejo avance!
Temos que chegar ainda longe.
O FRADE
Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo (1779-1825), conhecido como Frei Caneca, foi um religioso e político pernambucano. Esteve implicado na Revolução Pernambucana (1817) e na Confederação do Equador (1824). Em 1825, é condenado à forca, mas, diante da recusa de todos os carrascos em cumprir a sentença, acaba sendo fuzilado por um pelotão de 12 homens.
- Não se parece a este o cortejo
de alguém a caminho da forca.
- Parece mais bem procissão,
Governador que vem de fora.
- Que gente que veio na frente,
bandeira, padres, gente de opa?
- São os irmãos da Santa Casa,
que se diz da Misericórdia.
- Quem são os que passam depois
de roupas sinistras mas várias?
- São os escrivães, mais os meirinhos:
não abrem mão de suas toucas.
- Outros conheço de uniforme,
são da milícia e são da tropa.
- Para que trazer tanta força
contra um frade doente e sem forças?
-Que ninguem de aproxime dele,
Ele é um réu condenado à morte.
Foi contra Sua Majestade,
contra a ordem tudo que é nobre.
Republicano, ele não quis
obedecer ordens da Corte.
Separadista, pretendeu
dar o Norte à gente do Norte.
Padre existe é para rezar
pela alma, mas não contra a fome.
Mesmo vestido como está,
com essa batina de monge,
para receber seu castigo
é preciso que ele se assome.
Que todo o cortejo avance!
Temos que chegar ainda longe.
O FRADE
Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo (1779-1825), conhecido como Frei Caneca, foi um religioso e político pernambucano. Esteve implicado na Revolução Pernambucana (1817) e na Confederação do Equador (1824). Em 1825, é condenado à forca, mas, diante da recusa de todos os carrascos em cumprir a sentença, acaba sendo fuzilado por um pelotão de 12 homens.
Fellipe Torres - Diario de Pernambuco
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