Poucos nomes da cena literária
pernambucana alcançaram a dimensão do poeta, professor e crítico César Leal,
que faleceu ontem pela manhã, aos 89 anos, em decorrência de falência múltipla
dos órgãos, depois de uma longa luta contra o câncer. O cearense nascido em uma
fazenda na cidade Saboeira e radicado no Recife foi fundamental não só por sua
poesia, mergulhada na tradição e na modernidade, e nem apenas pelo vigor dos
seus ensaios. Tão grande quanto essas marcas era o seu papel de mentor e
incentivador de mais de mais de uma geração de poetas e escritores do Estado.
Antes de chegar ao Recife, na década de 1950, o jovem que saiu
do interior rodou uma boa parte do Brasil: de Manaus ao Rio de Janeiro e Minas
Gerais, iniciando nessas viagens a sua formação literária. Logo que aportou
aqui, conheceu Mauro Mota e enviou para o poeta, então editor do Suplemento
Literário do Diario de Pernambuco, quatro versos seus para que um fosse
escolhido. Mota publicou todos e o convidou para trabalhar com ele.
César assumiria o posto do colega em 1960. Usaria as páginas do
suplemento e o prestígio como professor de Letras da Universidade Federal de
Pernambuco – foi um dos fundadores da pós-graduação de Teoria da Literatura –
para publicar quase todos os autores da Geração 65, como Alberto da Cunha Melo,
Jaci Bezerra, Ângelo Monteiro, Domingos Alexandre, Marcus Accioly, Lucila
Nogueira, Marco Polo Guimarães e Raimundo Carrero.
César Leal: um nome inscrito na
literatura. O Recife perde o intelectual sensível, torna-se mais pobre na
capacidade de criar e analisar com maestria obras de autores diversos. (...)
Dele podemos asseverar: um humanista completo
Fátima Quinta, escritora e
presidente da APL
Tanto no jornal como na revista Estudos Universitários, que
lançava pequenos volumes de vários autores, atuou dessa forma. A crítica literária
Dulcinea Santos, autora de Entre
a vigília e o sono: o processo criador em César Leal, destaca que o
autor foi “um gênio, poeta maior e crítico aguçado”. No livro, ela analisa o
poema O sonâmbulo,
além de reunir poemas em homenagem ao cearense, de nomes como Ariano Suassuna e
Marcus Accioly.
A produção em versos de César, ele afirmava, era algo obscura.
“Minha poesia é realmente difícil. Não escrevo para ‘los muchos’, digo em um de
meus poemas. Escrevo para poucos e continuarei assim. A poesia é uma arte muito
séria e costumo tratar o poético com seriedade”, afirmou certa vez. Como
crítico, sabia reconhecer a poética moderna, mas pesquisava a fundo a obra de
Dante, sua principal referência, e Camões.
Durante a vida, César ganhou diversas honrarias literárias. Fazia parte da
Academia Pernambucana de Letras, na cadeira de número 23, e foi agraciado em
2006 com o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo
conjunto da obra. Além disso, suas obras foram traduzidas para diversos idiomas.
JC Online
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