Pedro Mariano não é figurinha carimbada na grande mídia. Possui selo próprio, o Nau; não agita nos espaços onde costumam estar as celebridades; e, mesmo na estrada há mais de 18 anos, existe ainda quem adore a brincadeira de confundir seu nome com o de uma dupla sertaneja. Filho de pais famosos (Elis Regina e César Camargo Mariano), insiste em um repertório autoral e até parece possuir certo fascínio por andar na contramão ou, em uma hipótese mais viável, apenas na mão que considera certa para ele.
Pedro disse ter ficado encantado com o carinho do público de Fortaleza FOTO: FABIANE DE PAULA
Sabe aqueles versos do poema "Cântico Negro", de José Régio, "Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos?". Mariano reza na mesma cartilha. E neste último fim de semana no Teatro da Caixa Cultural, mostrou que seus passos o estão levando para algum caminho certo. De sexta a domingo, apresentou em um teatro lotado, o show homônimo do seu mais recente CD, o "8". Além de o espetáculo ser a grande novidade para a Capital, o cantor fez releituras de músicas antigas, como "Risos e Memórias" (Jair Oliveira), e acabou sendo surpreendido pela plateia.
No sábado, nos versos finais de "Pra você dar o nome" (Tó Bradileone), os fãs levantaram cartazes com "sou eu", para completar a frase "que o que falta em você...". Ele adorou o carinho. "Eu quero registrar". Parou o show, conseguiu um celular, fotografou, agradeceu demais a atenção do público. Em seguida, chamou a filha Rafaela para o palco - "porque ela está com sono e havia pedido para subir" - enquanto cantava "Sei de Mim" (Luiza Possi e Dudu Falcão). A menina sentou no banquinho recém-utilizado por ele, encabulou-se, mas ainda cantou alguns versos da canção, com microfone bem longe. "Ela ainda não decorou a parte da Luiza Possi, por isso vai dublar. Mas vocês podem cantar". Assim foi feito.
O pensamento pode até ter passado pela cabeça dos fãs, mas guardaram silêncio. Só aqui e acolá alguém mais atrevido não se fez de rogado. Foram ações isoladas, porque, afinal, sem entrar no mérito da beleza do rapaz, sua maior atração não está na cor dos olhos. Os diferenciais de Mariano estão na voz, na interpretação, na entrega absoluta em cada canção. Ele canta como se, de fato, doesse, se a música fala de dor; como se flutuasse, caso as letras versem sobre felicidade. Não bastasse isso, a técnica ajudou.
O som estava
irrepreensível, a acústica do teatro deu ainda maior visibilidade à voz ímpar
do cantor, ora suave, ora agressiva, ora grave, ora aguda, o tempo inteiro um
instrumento musical poderoso com o qual ele parece brincar. Para quem o ouve e
adentra a estas sutilezas artísticas, é um caminho sem volta. Talvez por isso,
o intérprete ter público fiel. Na plateia, a grande maioria foi dos fãs
residentes na capital cearense, claro, mas havia também pessoas outras cidades
que saíram de estados vizinhos, como Natal e Pernambuco e do longínquo São
Paulo, apenas com o intuito de acompanhar a turnê.
A razão dessa busca não foi
apenas o preço camarada do Teatro da Caixa de R$ 20,00 a inteira e R$ 10,00, a
meia. Foi pela oportunidade de assistir ao cantor que pouco se apresenta por
estas bandas do Nordeste. Em Fortaleza, foi a sua segunda apresentação. A
primeira ocorreu em 2010, no Dragão do Mar. Neste intervalo, apenas um show, em
parceria com o amigo Jair Oliveira, no Festival de Verão de Salvador, na Bahia,
no início do ano passado.
No domingo, ao final do
show, ninguém queria embora. Nem a plateia, nem o cantor, nem a banda. Ele
propôs. "Vamos iniciar campanha para passar mais uns 15 dias aqui?".
"Vamos!". Desta vez a plateia gritou em uníssono. Pedro Mariano
ressaltou como havia sido gostosa a turnê, como havia apreciado a dinâmica do
teatro e como pretendia voltar o mais rápido possível à Fortaleza. Depois,
renderam-se todos aos versos de "Livre pra Viver": "sou livre
pra pensar, eu não devo nada a ninguém. E a liberdade, é tudo que sonhei. Eu
vou viver, eu juro".
Diário do Nordeste
ERILENE FIRMINO
CHEFE DE REPORTAGEM
Diário do Nordeste
ERILENE FIRMINO
CHEFE DE REPORTAGEM
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