Filho do criador da
guitarra baiana, Armandinho é o destaque do VIII Festival da Música Instrumental
O veterano
instrumentista, cantor e compositor baiano Armandinho, responsável pela
invenção da guitarra baiana de cinco cordas, a partir do bandolim, é o convidado
especial do VIII Festival da Música Instrumental. O evento acontece em
Fortaleza, de 2 a 5 de maio, no Theatro José de Alencar. Promovido pelo
Ministério da Cultura (Minc) e pelo Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB),
o festival promete mostrar a produção da música instrumental contemporânea
nordestina.
O festival reúne nove
atrações entre artistas solo e grupos. As apresentações acontecem nas sedes do
CCBNB, em Sousa (PB) e Juazeiro do Norte, no período até a 4 de maio.
Histórico
Armandinho se
apresenta no sábado, às 19h40. Ele promete uma prévia do disco que está mixando
- "Guitarra baiana". O lançamento está previsto para o segundo
semestre. A música de Armandinho passeia pelo choro de Jacó do Bandolim, o rock
de Jimi Hendrix, o trio elétrico de Dodó e Osmar e as fusões d´A Cor do Som,
grupo que integrou na década de 1970, misturando jazz, rock e, claro, música
brasileira. É essa mistura que promete apresentar no show de Fortaleza.
É sobre ela também que ele
fala no bate-papo que acontece hoje, às 17h, na sede do CCBNB na Capital. Dia
3, toca para os paraibanos, na cidade de Sousa. Simpático, sempre disposto a
falar sobre o que mais gosta: a música, não importa se instrumental ou cantada.
"Tenho um trabalho instrumental muito forte", revela, aproveitando,
"para parabenizar a organização do festival
O instrumentista lembra da
parceria com Fausto Nilo, na música "Zanzibar", que promete cantar no
show. Sobre A Cor do Som revela que foi uma demonstração dessa mistura de
música instrumental com música cantada. Serviu para abrir o caminho para a
renascimento do chorinho, trabalho feito depois, na carreira solo, nos anos
1980. O trio elétrico está presente na obra do artista, que no ano passado
gravou um disco em Tel Aviv (Israel). O contato com músicos israelenses surgiu
em 1999, por intermédio de um percussionista brasileiro.
Armandinho antecipa sua
fala no CCBNB e manda um recado às novas gerações de músicos: "Aprendam,
ouçam de tudo, mas sem perder de vista as nossas raízes musicais". Nelas,
explica, que reside o diferencial da sua arte.
Cordas
"Desde menino
que tenho contato com os instrumentos elétricos. Quando entrei em contato com o
rock, já tinha instrumento elétrico em casa", recorda. "Meu show é um
apanhado disso tudo", diz, ressaltando ter colocado o bandolim na era da
guitarra, do pop. No entanto, nunca fez um disco de rock, revela, afirmando que
suas matrizes musicais são chorinho, frevo, com uma "levada roqueira".
Essa união de linguagens e
ritmos é transposta para a música instrumental, falando do trabalho que
realizou com o frevo pernambucano. A ligação com o frevo e com o choro foi
responsável pela criação de um som "trioeletrizado", fazendo
referência ao trio elétrico, em especial, à guitarra baiana e ao cavaquinho de
quatro cordas, formando um frevo personalizado.
"O frevo se renovou e
nos tornamos divulgadores dessa música com o toque da guitarra baiana". A
inovação feita no frevo foi levada para o Clube do Choro, em Brasília. No
início, houve uma certa resistência, as pessoas temiam a introdução da
guitarra, justificando ser o choro música popular brasileira. Cita o trabalho
"Pop choro" de 2009, no qual a guitarra baiana participa. Uma
demonstração de que música de Armandinho é fruto de pesquisas, não ficando
restritas ao universo nacional, são as viagens mundo afora. Todos os anos
realiza turnê pela Europa.
Design
A pesquisa de
Armandinho inclui também o desenho de guitarras baianas. Do instrumento tira
notas que incluem desde a batida latina, puxada para o reggae de Santana,
passando pelo Boleros de Ravel. "Com a guitarra baiana pode ser tocado
qualquer ritmo, depende apenas do músico", destaca. "Digo sempre aos
músicos que tentem ser o mais brasileiro possível", considerando
fundamental a informação e saber o que está acontecendo no contexto da música
mundial.
Conforme o músico, a base
deve ser os nossos ritmos, justificando que eles fazem a diferença.
"Tecnicamente tem gente destruindo os instrumentos mundo afora". Falo
sempre aos músicos que "aprendam com o novo, mas fiquem ligados as nossas
raízes". Elas são responsáveis pela personalidade da música de cada um.
"Não adianta tocar da mesma forma dos americanos", diz, chamando a
atenção para o diferencial da cultura musical brasileira
Fortaleza
Tessi Letícia Barbosa,
gerente de Cultura do CCBNB, explica que as apresentações do festival
acontecerão a partir das 18h, de 2 a 5 de maio, no TJA. Na quinta e
sexta-feira, serão dois shows por noite. No sábado e no domingo acontecerão
três apresentações.
Barbosa ressalta a
pluralidade do festival ao trazer um grupo de cada estado nordestino. O músico
Armandinho realiza shows nas três cidades que recebem o festival. "Nossa
intenção é trabalhar com artistas do País inteiro", diz, justificando que
o objetivo do festival é fomentar e difundir a música instrumental.
Os shows são
gratuitos. "O que a gente percebe é que há grupos fazendo música
instrumental com qualidade", reconhece Tessi Letícia Barbosa. São vários
os ritmos, passando pelo jazz, blues, MPB e os nordestinos. O evento contribui,
ainda, para promover o intercâmbio entre os músicos que insistem e fazem música
instrumental, embora a divulgação seja pouca.
Os grupos demonstram a
versatilidade da música instrumental que está sendo produzida nos estados
nordestinos. Dentre outros, destacam-se as criações do grupo de Alagoas "
A Lá Sax Quarteto", que utiliza instrumentos de sopro. O "Viola de
Arame", da Bahia, que trabalha com a viola de 10 cordas. Do Ceará, Thiago
Almeida Trio e os pernambucanos do " Rivotrill", além dos
instrumentistas Xisto Medeiros, da Paraíba e Chiquinho França do Maranhão,
"Caninga Trio", do Rio Grande do Norte, "Quarteto Bumba
Trio", do Piauí e "Café Pequeno", de Sergipe.
Mais informações
VIII Festival da
Música Instrumental acontece de 2 a 5 de maio, no Theatro José de Alencar, a
partir das 18h, grátis. De 30 de abril a 4 de maio, o festival acontece nos
Centros Culturais do Banco do Nordeste em Sousa (PB) e Juazeiro do Norte (CE).
Filho do criador da guitarra baiana, Armandinho é o destaque do VIII Festival
da Música Instrumental
IRACEMA SALES
REPÓRTER
Diário do Nordeste
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