Estás presente na morte
Vives a mudar a sorte
As horas são teu alento
Sendo irmão do andamento
Te espalhas por todo canto
Alguém tece o teu manto
Depois tu mesmo o desgastas
Te mostrando em teias vastas
Tu és o tempo esse encanto.
Vou cantar com total atrevimento
Imitar os ciganos andarilhos
Percorrer os caminhos dos trocadilhos
Vendo louro inventar um novo invento
Misturar poesia e andamento
Construir uma estradeira
Caminhar nas estrelas vendo o pó
Das passadas da glosa derradeira
Imitar o pavão com suas cores
Tratarei como sábio esta ferida
P’ra lembrar a loucura dos amores
Pois os loucos os grandes sabedores
Dão ao lúcido a loucura do real
Pra mostrar que o bem intencional
Faz morada em lugar bem diferente
Qualquer cor, qualquer dor é sempre gente
Sugerindo a paixão o seu aval
A tarefa é não ter nenhum caminho
P’ra encontrar o caminho do não ter
Ser irmão do bonito amanhecer
Ser agulha seguindo o seu alinho
Encontrar multidões quando sozinho
Colocar tom menor no violão
Ser maior entoando uma canção
Perceber quanto tempo falta ainda
Colocar no cabelo a fita linda
Como fosse uma estrofe de canção
Mote de Manoel Filó)
De Braúna foi feito este batente,
Bem sentado no chão por um pedreiro,
Cada marca no corpo é um janeiro
Que lhe deixa por um lado assim pendente,
Mesmo assim rijo, forte e resistente,
Se escalda nos dias do sertão,
E o passado lhe trás recordação,
Dos trinados de esporas e dos chocalhos,
Que fizeram com o tempo estes mil talhos,
No batente de pau do casarão.
No batente da casa da fazenda,
Tropecei quando ainda era bem moço,
Esperei mãe trazer o meu almoço,
Vi Maria sentada fazer renda,
Muita gente deixava encomenda,
Um menino batia seu pinhão,
Pra ficar bem macio em sua mão,
Dava cortes profundos na madeira,
Tem até um buraco de pingueira,
No batente de pau do casarão.
Eu conheço a história de um batente
Que por mais de cem anos foi pisado
Quando a casa caiu foi retirado
Pro uma sobra que havia assim na frente
E de assento servia a muita gente
Esperar com a família o caminhão
Quantos anos ficou ali no chão
Esperando no chão com paciência
Acho até que existe consciência
No batente de pau do casarão
Massa!!! Pouca coisa do poeta para encontrar na web, mas aqui se fez um bom registro.
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