Quero-quero e anum carrapateiro
Tou pensando no canto boiadeiro
Êh êh êh…rê ! Malhada e Ventania !
Tou pensando no sapo, rã e jia
Orquestrando o amem da hora santa
Na insônia do grilo que me encanta
Na leveza dum fole bem tocado
No vergel que se espalha no roçado
No prazer de ver planta que se planta.
O entalo de lindos pensamentos
Da tristeza amuada dos jumentos
Tais e quais um bruguelo desbriado
Do vexame bem dispranaviado
Do doidim que traz água na ancoreta
Do cachimbo de Dona Mariêta
Numa reza de limpa de quebranto
Do espelhinho, missal, de terço e santo
Na banquinha do lado da maleta.
Com jarrinho de flor bem aguádo
Na fachada triângulo bem pintado
Rodeado de traços em relevo
Vira-lata mijão fazendo frevo
Quando avista seu dono despresente
Lavadeira batendo lentamente
Tricoline, fustão, bramante e linho
E um menino caçando passarinho
Badocando e pisando mansamente.
Com direito de ali nunca ter nada
Do trabalho arrastado na enxada
Cavucando o terroso continente
E apesar de sofrido este valente
Solta um riso risido e clareado
Faz um verso na hora improvisado
Tão inédito que nunca é repetido
Quem não presta atenção sai ressentido
De perder o que nunca é reprisado.
Que a idade não capa pensamento
Que fumaça não tapa firmamento
Que igreja não capa o vigário
Que cadeia não cura o salafrário
Que senado não pune o deputado
E o ceguinho fazendo o pontiado
E molhando a palavra numa cana
No balcão da bodega de Mãe Nana
Com cerquinha pros copos emborcados.
No aconchego da casa praciana
No terraço se tira uma pestana
Depois dum almocim bem palitado
Essa casa tem jeito alpendrado
Tem o dom de não ter uma garagem
Tem um muro baixinho e arvoragem
E o ambulante gritando: Garrafeeiro!!!
Êh jornal, êh garrafa, êh litro e meio!
E os moleque juntando a miudagem.
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