A música sempre fez parte
da história do cantor e compositor cearense Evaldo Gouveia, que pelo entusiasmo
e a alegria com que encara a vida, demonstra que a arte tem mais uma função:
faz rejuvenescer. Cheio de planos, compondo e fazendo shows em todo o País, o
músico de 84 anos, afirma que acorda "com o violão nos peitos".
Evaldo em dois momentos: à época do Trio Nagô; e
hoje, com shows por todo o país. FOTO: KID JUNIOR
Evaldo faz música a toda
hora, mas confessa que a inspiração para as canções costuma vir pela manhã.
Para o show "Evaldo Gouveia, 60 anos de Carreira", que acontece hoje,
às 21h, no BNB Clube, os fãs desse cearense de Iguatu - e cidadão do mundo -
vão conferir composições inéditas, além de acompanhar sucessos que acompanham e
emocionam gerações, desde o início da carreira, nos anos 1950.
Ao longo da carreira, o
artista contabiliza 1,2 mil composições entre sambas, tangos, marchas-rancho,
boleros, guarânias e sambas-enredo, orgulhando-se de ser o único compositor
brasileiro ao enveredar suas criações por todos os estilos musicais. O
romantismo está presente nas suas composições que falam de amor, saudade, ou
seja, românticas.
São letras sob
medida que casam com melodias marcadas pela sensibilidade de um artista que
descobriu a arte ainda na infância, quando deveria estar brincando, preferia o
violão como companhia, fazendo serestas na pacata Iguatu. Além de shows e de
novas composições, Evaldo Gouveia dá um outro presente aos fãs, ao informar que
seu primeiro DVD, gravado no Theatro José de Alencar, em 2001, "estará na
praça dentro de 15 dias".
O show dessa noite
acontecerá em clima de festa. Aliás, o cantor tem muito o que celebrar nessas
mais de oito décadas de vida, pontuados pela fama, produção artística e
reconhecimento de sua música fora do País. "Viajei por 30 países",
lembra, completando ter morado em Paris, Itália e Lisboa. No show, cuja
abertura será feita pela dupla Daniel & Maria Zenaide, o cantor, que toca
violão, será acompanhado pelos músicos: Tito Freitas (teclado), Netinho (baixo)
e Lulaboy (bateria). O público vai poder se emocionar com sucessos como
"Sentimental demais", "Alguém me disse" e "O
trovador", além de composições inéditas.
Evaldo Gouveia não para.
"Essa é a minha vida", diz, completando ter realizado show em Sobral,
tem outro marcado para a próxima semana, em Natal, no Rio Grande do Norte,
enquanto se prepara para animar a festa do Dia das Mães, em Crateús. "Estou
sempre fazendo shows, mas tudo com calma", diz, ressaltando que não ter
mais pressa porque sente-se realizado. Condição privilegiada de poucos, Evado
Gouveia diz que não mudaria nada na sua trajetória artística. Sente falta de
bons artistas para divulgar suas composições, citando Altemar Dutra, Nélson
Gonçalves, Anísio Silva, dentre outros que gravaram suas músicas.
O dinamismo desse
"cidadão do mundo" pode ser observado pelas diversas moradas
espalhadas pelo Brasil. "Moro no Rio e em São Paulo e, agora, tenho um
lugarzinho também em Fortaleza", revela em tom sereno e melódico. Parece
que canta até ao falar, e, quando o assunto é música, criação, a conversa flui
de maneira leve e agradável. Conta que está há cinco meses na Cidade,
prometendo retornar para o Rio de Janeiro, em maio. No entanto, a maioria dos
shows acontecem em São Paulo onde foi dono de uma casa noturna durante 20 anos,
a "Sun Flash". "Essa é minha vida do jeito que pedi a
Deus", revela, agradecendo o dom da música, que considera divino.
"Nasci com ele", afirma Evaldo Gouveia, esclarecendo ser o único
compositor brasileiro a fazer música em todos os gêneros musicais. "Tenho
dois sambas-enredo da Portela e fiz também marchas-rancho", pontua.
O menino que nasceu no
interior do Ceará, no município de Iguatu, diz que já chegou ao mundo artista.
Como se não bastasse a ajuda divina, como ele próprio admite, Evaldo Gouveia
viveu num ambiente musical, pelo menos, nos primeiros anos de sua vida.
"Minha mãe tocava, cantava, assim como meu pai tocava e uma tia",
lembra. Aos oito anos, o garoto que adorava cantar, pediu ao avó, o sargento
Gouveia, que o deixasse cantar na "radiadora" de Iguatu. O avó
atendeu ao pedido do neto, que fazia seresta para toda a cidade. O bom humor é
outro traço do artista, que diz ter pensado em ser "cangaceiro quando
criança", ri. Confessa que achava bonito ver o seu avó, um homem da lei,
chegar em casa e pensava: "quero ser igual a ele". A arte foi mais
forte e trouxe Evaldo Gouveia para o universo artístico musical. O sonho de
seguir a carreira do avó ficou em Iguatu, principalmente porque aos 11 anos,
após a separação dos pais, vem morar com a mãe, na Rua Assunção, no centro de
Fortaleza. O violão passa a ser o principal companheiro do garoto que começava a entrar na
adolescência.
Cada vez mais a música
tornava-se presente na vida de Evaldo Gouveia. Nos anos 1950, ainda em
Fortaleza, forma o Trio Nagô, com os amigos Mário Alves e Epaminondas de Souza.
"Fiquei 25 anos no grupo e não gravava sozinho". Nesse período, o
músico compunha e o Trio Nagô se encarregava de divulgar as suas músicas, que
logo viravam sucessos. Mas o grupo acabou e Evaldo Gouveia constrói sua
carreira solo, justificando só agora ter pensado em gravar um DVD, o primeiro
de sua trajetória. Em 1957, Evaldo Gouveia faz a sua primeira música,
"Deixe que ela se vá" que foi gravada por Nélson Gonçalves.
No mesmo ano, Nora Ney
grava outra composição "Eu e Deus".Um dos grandes sucessos do músico
"Alguém me disse", foi gravado por Anísio Silva. Em 1963, foi a vez
de Altemar Dutra começar sua carreira com a música "Tudo de mim",
vindo depois as composições "Sentimental", "Que queres tu de
mim", "Somos iguais" e "Bloco da solidão". Vale
ressaltar, ainda nos anos 1950, a parceria com Jair Amorim. Ao falar sobre os
60 anos de carreira, não pensa duas vezes: "queria que voltasse tudo de
novo", afirmando ter conquistado sucesso tanto profissional quanto
financeiro. "Ganhei muito dinheiro", resume. Afirma que queria que
surgissem outros artistas, assim como Altemar Dutra, Nélson Gonçalves e Anísio
Silva que popularizaram suas músicas. "Eles vendiam muito", conta,
fazendo referência aos ganhos tanto pela vendagem quanto pelos direitos
autorais.
Mais informações:
Show "60 anos
de carreira", com o cantor Evaldo Gouveia. Às 21 horas, no BNB Clube
Aldeota (Avenida Santos Dumont, 3446).
As mesas custam 150
(não sócios) e R$ 120 (sócios). Contato: (85) 4006.7200 e 4006.7203.
IRACEMA SALES
REPÓRTER – Diário do Nordeste
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