segunda-feira, 8 de abril de 2013

MÚSICA / DISCO: Ao vivo, o colapso do guitarrista Dado Villa-Lobos em busca de identidade


Dado Villa-Lobos
Foto: Camilla MaiaRIO - Um alívio e uma alegria para Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana, é que aquela fase em que o público ainda estranhava vê-lo cantando passou. Em seu segundo disco solo, “O passo do colapso” (do qual faz show de lançamento hoje, às 21h, no Teatro Net Rio), o desafio é outro: provar a viabilidade de novas formas de distribuir e comercializar música. O álbum chegou ao mercado em novembro do ano passado apenas na versão digital, vendida pelo iTunes. Embora os resultados financeiros não tenham sido os mais espetaculares, ele diz que a experiência foi positiva.

— A música, basicamente, virou um bem gratuito. E eu sou radicalmente contra isso. Tenho certos colegas que acham isso interessante, porque divulga o trabalho e tal. Eu acho que o autor, o artista, o produtor fonográfico têm que receber pelo que foi feito — prega Dado, que até o final do mês lança, enfim, o compact disc do álbum. — Um formato não inviabiliza o outro, ainda existe essa demanda pelo CD. E a ideia é lançar em breve também a versão em vinil, um disco duplo de dez polegadas.

Depois de promover ações no Twitter e no Facebook, de abrir um canal no YouTube (onde postou vídeos ao vivo no estúdio) e de recorrer a uma twitcam para transmitir um dos ensaios, Dado recolheu satisfatória quantidade de respostas do público ao seu disco.
— As pessoas se surpreenderam com as canções, com as atmosferas, com os arranjos — conta. — O formato também chamou a atenção. O que temos é uma banda de rock, ora experimental, ora mais popular. Ora um pouco mais sombria, ora um pouco mais solar.

Hoje, o cantor e guitarrista estreia o show completo de “O passo do colapso”, com projeções da diretora Clara Cavour e a banda composta por Laufer (baixo), Lourenço Monteiro (bateria), Caio Fonseca (guitarras, violões, teclados) e o Günter Fetter (guitarra, teclados e programações eletrônicas).

A noite é de festa, e Dado recebe no palco a cantora Mallu Magalhães (que gravou com ele a faixa “Quando a casa cai”) e o escritor-performer e eterno parceiro Fausto Fawcett, que participa de “Overdose coração” e “Beleza americana”. A ideia era tocar todo o repertório do disco e aí partir para as suas canções mais queridas da Legião. Num papo informal, o diretor teatral Felipe Hirsch convenceu Dado a embaralhar as canções “para não ficar a ideia de que estava entregando no final o que as pessoas queriam ouvir”. Entre as músicas da antiga banda que ele canta na noite estão o raro ska com letra nonsense “Depois do começo”, a delicada “Giz” e a densa “Teatro dos vampiros”.

— O quer há de mais óbvio no repertório da Legião está por aí — diz o guitarrista, que gostou de se ver representado pelo filho Nicolau no filme “Somos tão jovens”, retrato dos primórdios da Legião. — O Renato do (ator) Thiago Mendonça é impressionante, é igual.

Mas Dado não se sente lá muito à vontade com o holograma de Renato Russo prometido para uma homenagem ao músico, no dia 29 de junho, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília — palco, em 1988, de um dos mais tumultuados shows da Legião.

— As lembranças de lá são as piores possíveis — diz o guitarrista, que ainda se dedica, este ano, à banda Panamericana, montada com o ex-Barão Vermelho Dé (baixo), o ex-Titãs Charles Gavin (bateria) e o vocalista Toni Platão para recriar clássicos do rock latino (e a estreia carioca é dia 19, no projeto Sonoridades do Oi Futuro de Ipanema).

SILVIO ESSINGER
o Globo

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