RIO
- Um alívio e uma alegria para Dado Villa-Lobos, guitarrista da Legião Urbana,
é que aquela fase em que o público ainda estranhava vê-lo cantando passou. Em
seu segundo disco solo, “O passo do colapso” (do qual faz show de lançamento
hoje, às 21h, no Teatro Net Rio), o desafio é outro: provar a viabilidade de
novas formas de distribuir e comercializar música. O álbum chegou ao mercado em
novembro do ano passado apenas na versão digital, vendida pelo iTunes. Embora
os resultados financeiros não tenham sido os mais espetaculares, ele diz que a
experiência foi positiva.
—
A música, basicamente, virou um bem gratuito. E eu sou radicalmente contra
isso. Tenho certos colegas que acham isso interessante, porque divulga o
trabalho e tal. Eu acho que o autor, o artista, o produtor fonográfico têm que
receber pelo que foi feito — prega Dado, que até o final do mês lança, enfim, o
compact disc do álbum. — Um formato não inviabiliza o outro, ainda existe essa
demanda pelo CD. E a ideia é lançar em breve também a versão em vinil, um disco
duplo de dez polegadas.
Depois
de promover ações no Twitter e no Facebook, de abrir um canal no YouTube (onde
postou vídeos ao vivo no estúdio) e de recorrer a uma twitcam para transmitir
um dos ensaios, Dado recolheu satisfatória quantidade de respostas do público
ao seu disco.
—
As pessoas se surpreenderam com as canções, com as atmosferas, com os arranjos
— conta. — O formato também chamou a atenção. O que temos é uma banda de rock,
ora experimental, ora mais popular. Ora um pouco mais sombria, ora um pouco
mais solar.
Hoje,
o cantor e guitarrista estreia o show completo de “O passo do colapso”, com
projeções da diretora Clara Cavour e a banda composta por Laufer (baixo),
Lourenço Monteiro (bateria), Caio Fonseca (guitarras, violões, teclados) e o
Günter Fetter (guitarra, teclados e programações eletrônicas).
A
noite é de festa, e Dado recebe no palco a cantora Mallu Magalhães (que gravou
com ele a faixa “Quando a casa cai”) e o escritor-performer e eterno parceiro
Fausto Fawcett, que participa de “Overdose coração” e “Beleza americana”. A
ideia era tocar todo o repertório do disco e aí partir para as suas canções
mais queridas da Legião. Num papo informal, o diretor teatral Felipe Hirsch
convenceu Dado a embaralhar as canções “para não ficar a ideia de que estava
entregando no final o que as pessoas queriam ouvir”. Entre as músicas da antiga
banda que ele canta na noite estão o raro ska com letra nonsense “Depois do
começo”, a delicada “Giz” e a densa “Teatro dos vampiros”.
—
O quer há de mais óbvio no repertório da Legião está por aí — diz o
guitarrista, que gostou de se ver representado pelo filho Nicolau no filme
“Somos tão jovens”, retrato dos primórdios da Legião. — O Renato do (ator)
Thiago Mendonça é impressionante, é igual.
Mas
Dado não se sente lá muito à vontade com o holograma de Renato Russo prometido
para uma homenagem ao músico, no dia 29 de junho, no Estádio Mané Garrincha, em
Brasília — palco, em 1988, de um dos mais tumultuados shows da Legião.
—
As lembranças de lá são as piores possíveis — diz o guitarrista, que ainda se
dedica, este ano, à banda Panamericana, montada com o ex-Barão Vermelho Dé
(baixo), o ex-Titãs Charles Gavin (bateria) e o vocalista Toni Platão para
recriar clássicos do rock latino (e a estreia carioca é dia 19, no projeto
Sonoridades do Oi Futuro de Ipanema).
SILVIO ESSINGER
o Globo
SILVIO ESSINGER
o Globo
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