Seu nome de pia era Francisco Bernardo de Menezes,
famoso nas regiões do Cariri-PB e Pajeú-PE, como Chico de Dedês, de quem ouvi
falar e contar histórias desde que me entendo por gente. Nasceu no sitio Olho
d´gua, no município de Ouro Velho, antigo Boi Véi, na Paraíba, em 08 de março
de 1930.
Infelizmente veio a falecer nesta segunda, dia 22,
na mesma cidade onde nasceu e viveu a vida toda.
Chico pertencia a família Bernardo de Menezes, da
qual também sou descendente por parte de pai e mãe, e tenho muito orgulho em
ser seu parente com tanta consangüinidade. Meu pai, Manoel Filó, foi grande
amigo de Chico e parceiro em noitadas de cantorias, forrós e prosas.
Era um desses sertanejos, de recursos parcos, mas de
riqueza de caráter, honestidade, ética e moral, inestimável. Conhecido e
reconhecido por todos da região onde passou a vida. Era também característica
sua, a prosa, cheia de improviso, presença de espírito e inteligência, em
inúmeras tiradas. Um gozador nato.
Tive a honra de conhecer, e conviver, com o Mestre
Chico de Dedês – Dedês apelido de sua mãe, que teve vários filhos. Em uma
ocasião, ajudava Felizardo Moura, filho do Mestre Zé de Cazuza, na realização de
um festival de repentistas na Prata-PB, cidade vizinha e coirmã de Ouro Velho.
Estávamos recolhendo objetos antigos para decoração do palco – ferro de passar
a brasa, um quadro do Coração de Jesus, bancos de madeira compridos… – quando
encontramos Chico na praça de Ouro Velho;
- Chico, tu num tem uns troços antigos pra ajudar a
gente não?
- Tem uma conta minha no bar de Cláudio, se quiserem
levar!
Texto:: Jorge Flló
A MISSA DA CABRA
Chico tinha uma cabra ladrona que tava entrando no
roçado de um sujeito lá perto dos Olhos Dágua aonde ele morava. Um dia na
feira do Boi Velho o camarada encontrou-se com ele e pediu providências e Chico
prometou dar um jeito.
Na outra semana , outra reclamação:
- Mas Chico, será que vai ser preciso eu ir pra
polícia?
- Pode deixar Fulano, que não vai mais acontecer.
Dois dias depois o cabra encontrou Chico:
- Chico, assim não dá, você tem que dar um jeito
nessa cabra!
Chico respondeu :
- Agora meu velho, a única coisa que eu posso fazer
é rezar uma missa pra alma dela pois eu já matei a coitada, vendi o couro e até
já comi a buchada.
Chico, que já vinha doente, passou mal e foi
levado pra Monteiro. Lá o médico, depois de examiná-lo, recomendou:
- Seu Chico eu vou mandar aplicar um soro no senhor.
E Chico respondeu:
- Doutor, eu prefiro que o senhor me dê o leite ou o
queijo, o soro não vai resolver meu problema não.
Melhorou e voltou pros Olhos Dágua. Dois dias
foi de novo pra Monteiro.
Dessa vez , não voltou mais.
Aí , todos os olhos do lugar se encheram d’água com
a sua partida.
RESPOSTAS LIGEIRAS
Nas veredas;
- Chico, tu viu umas cabeças de bode correndo por
ai?
- Se tivesse visto quem tava correndo era eu!
Um conselho
- Chico, meu irmão agora quando bebe sai correndo
pru meio do mato. O que é que eu faço?
- Amarra um chocalho nele!
Pagando as contas
- Chico, se tu ganhasse na loteria tu fazia o que?
- Pagava umas contas de bar que eu tenho.
- E com o resto?
- Eu pagava quando ganhasse de novo!
Descansado
Batem na sua porta:
- O que é?
- Uma esmolinha!
- Passe por debaixo da porta!
Esperando a deixa
Admirando o açude novo do patrão;
- E eu ainda vou levantar o paredão dois metros!
- Ai a água vai embora todinha por baixo!
Este era o Mestre Chico de Dedês. Mas um gênio que
se despede do mundo terreno!
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