Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas
bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal
é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns
títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito
(Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do
forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real),
Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe
de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia
Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma
sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró).
Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.
Porém o culpado desta ‘desculhambação’ não é culpa exatamente das bandas,
ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores,
músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O
buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero
musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando- se.
Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan
Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e
oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das
bandas de ‘forró’, parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo,
as saias e shortes começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The
Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan
Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que
destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo est tico. Pior, o glamour, a
facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos
políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por
sua vez, dominava o governo.
Aqui o que se autodenomina ‘forró estilizado’ continua de vento em popa.
Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste.
Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior
atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça
pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas
respectivas patroas) pergunta se tem ‘rapariga na plateia’, alguma coisa está
fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma
transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é ‘É vou
dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!’, alguma coisa está muito doente.
Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a
que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.
Ariano Suassuna
Fonte: Facebook
Pajeú da Gente
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