Jorge de Lima (1895-1953) nasceu em União dos Palmares, Alagoas, no dia 23 de abril de 1893. Filho de senhor de engenho, mudou-se para Maceió, em 1902. Estudou no Colégio Diocesano de Alagoas. Com apenas 17 anos, escreveu o poema "Acendedor de Lampiões". Estuda Medicina no Rio de Janeiro. Em 1914 publica "XIV Versos Alexandrinos", que foi sua estréia no mundo literário. Em 1919, retorna a Maceió, onde exerce a profissão e dedica-se à política.
A carreira poética de Jorge de Lima foi múltipla, iniciou-se no Movimento Parnasiano, e no final da década de 20 acercou-se de técnicas do Modernismo, em especial do verso livre. Reuniu as várias fases em seu poema, a epopeia barroco-surrealista "Invenção de Orfeu".
Qualquer que seja a chuva desses campos
devemos esperar pelos estios;
e ao chegar os serões e os fiéis enganos
amar os sonhos que restarem frios.
e os ninhos imortais forem vazios,
há de haver pelo menos por ali
os pássaros que nós idealizamos.
e julga tê-los em seus próprios bicos,
e ao bico alheio em cânticos responde.
possa mirar-se as asas depenadas
e contentar-se com as secretas penas.
Ao desgraçado, ao réu, ao pecador, que importa!
És um alívio presto, um conforto, um alento!
Quantas vezes oh! céus, a lágrima conforta
O que diz a Saudade e o que fala o Tormento!
Do desejo que nasce, à Paixão que está morta,
A lágrima completa o universal concento...
Atentai no meu estro: ela convence e xorta
Qual se fora um gemido, um soluço, um lamento!
Quando a voz titubeia, agonizante, louca,
E a paixão quer falar e se constrange e cala,
É a lágrima que diz o que não diz a boca...
A lágrima, meu Deus! que não tem voz nem fala,
É tão boa! parece um confidente mudo
Que, assim mesmo, sem voz e sem falar, diz tudo!
Jorge de Lima
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