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Esse blog tem como objetivo difundir a Música Popular Brasileira em geral, seja ela qual for: a música do Sul, a musica do Cariri, a Pajeuzeira ou mesmo outros ritmos de regiões diferenciadas. Nasci no Sertão do Pajeú, lugar onde a poesia jorra com muita facilidade e que os Poetas do Repente cospem versos com uma precisão incrível. Sempre tive esta curiosidade de fazer postagens e construir um blog. Aliás, criar um blog é simples e rápido, mas, o difícil mesmo é mantê-lo vivo e pulsante. Uma tarefa difícil e tem que ser feita com muita dedicação e precisão, sei que às vezes agradamos a uns e desagradamos a outros; também pudera, não somos perfeitos e isso acontece em todas as áreas e campos de trabalho. E para que o blog aconteça, tenho que desafiar o meu tempo e fazer propagar até aqueles que acessam e fazem aquisições de temas no gênero da música, da poesia e outros segmentos da cultura brasileira. Não tenho a experiência de um Blogueiro profissional, mas, como se diz: “Experiência só se conquista com tempo, perseverança e dedicação”. É isso aí, espero que curtam esse espaço que faço com exclusividade para vocês.


Obs.: Do lado direito do seu monitor adicionei uma rádio (Cantigas e Cantos) com a finalidade de que você leia e ao mesmo tempo ouça uma seleção musical exclusivamente feita por mim. Também inserí fotos Antigas da Capital da Poesia (S. José do Egito), fotos retiradas do Baú do Jornalista Marcos Cirano.


Texto: Gilberto Lopes

Criador do Blog.

domingo, 26 de abril de 2015

INQUIETO: Alceu Valença reúne seus poemas em livro

O cantor pernambucano repassa sua trajetória musical, literária e pessoal no livro 'O poeta da madrugada


Na obra, que sai por uma editora portuguesa, Alceu fala, entre outros temas, de São Bento do Una, do Recife, de Olinda e de Paris / Yanê Montenegro/Divulgação

Na obra, que sai por uma editora portuguesa, Alceu fala, entre outros temas, de São Bento do Una, do Recife, de Olinda e de Paris

Yanê Montenegro/Divulgação


Alceu Valença era um jovem cabeludo e barbudo, em meados dos anos 1980, quando encontrou um dos seus ídolos literários andando pelo Rio de Janeiro: o poeta Carlos Drummond de Andrade. Aproximou-se dele, claro, e o cumprimentou dizendo: “Que honra encontrar o poeta Drummond na Rua Vinicius de Moraes!”. O modernista não deu a mínima. Simplesmente fez um muxoxo e apressou o passo, esquivando-se do jovem e dos seus amigos, também cabeludos e barbudos.

O desastrado encontro com o ídolo não apagou a marca da sua influência na obra de Alceu. Quando largou a advocacia, em 1969, para se dedicar à música, o compositor e cantor de São Bento do Una já escrevia versos há um bom tempo. Alguns iam virando música, outros mantiveram o ritmo próprio das páginas impressas e ficaram guardados até pouco tempo. Agora, incentivado pela mulher Yanê Montenegro, Alceu lança o livro O poeta da madrugada, pela editora portuguesa Chiado, com versos e letras de música que mostram sua trajetória poética e pessoal.

Com prefácio do escritor angolano José Eduardo Agualusa, o livro revela a força poética dos textos de Alceu, mesmo quando eles já foram vertidos em música. Ao mesmo tempo, o ritmo invade a poesia: é impossível não imaginar a cadência da voz marcada do cantor naqueles textos até então inéditos. Alceu leva o leitor pelas geografias e pelos momentos marcantes da sua vida, de São Bento do Una a Paris e da ditadura, em seu “medo que amordaçava o Brasil”, ao amor e ao tempo.
É um encontro de Alceu com dois velhos companheiros: a literatura e o tempo. Não por acaso, antes mesmo de O poeta da madrugada ganhar forma, havia composto um poema chamado São Bento – Paris. “Era algo como um inventário do jovem Alceu antes do sucesso como artista, que chegaria para mim somente a partir de 1980. Parte deste poema está presente entre os escritos do livro. Posso dizer que ele influenciou, inclusive, a feitura do roteiro do meu filme A luneta do tempo, no sentido de voltar a lugares e momentos”, conta.
Mais do que as lembranças, é o embate com o tempo que move Alceu. “A arte possui esta prerrogativa de transportar-nos além do tempo e do espaço, da mesmice cotidiana. Além disso, escrevo para matar o tédio, para enganar o tempo, que chamo de tríplice: vivemos presente, passado e futuro, juntos na mesma embolada, e a arte é um dos melhores instrumentos de que dispomos para lidar com isso”, define o poeta-músico.

DOM QUIXOTE LIBERTO
Uma das melhores definições do inquieto e afiado cantor vem pelas suas próprias palavras, na música Agalopado, do CD Espelho cristalino (1977). Como outras das mais belas letras de Alceu, ela está no livro e sintetiza bem o papel de Alceu de ser, ao longo da vida, um “porta-voz da incoerência” ou uma espécie “Dom Quixote liberto de Cervantes”. Da mesma forma que nas suas composições, a métrica popular aparece nos poemas ao lado da erudição, e os textos reflexivos estão juntos das canções vorazes que todo mundo conhece.

“A literatura e a referência a grandes autores sempre estiveram presente em minhas músicas. Posso mencionar Ai de ti Copacabana, que cita uma famosa crônica de Rubem Braga; Loa de Lisboa, que cita Fernando Pessoa; ou Vou danado pra Catende, com versos de Ascenso Ferreira, entre muitas outras”, aponta Alceu, que ainda fala de João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Mário Quintana ao longo da obra.
Outra faixa que fez citando Rubem Braga, Na primeira manhã – e que refere-se a um “conde falando ao passarinho”, imagem de uma crônica do autor capixaba – rendeu outro encontro literário. “Através de um sobrinho dele, fiquei sabendo que Rubem se sentira honrado com a referência e resolvi telefonar para ele. Fiz alusão a um Valença de Pesqueira, que ele cita como valente soldado no livro Crônicas da Guerra na Itália, mas ele sequer se lembrava de meu suposto parente heroico”, revela o músico.

Se as composições contam com referências literárias, os poemas estão contaminados de ritmos. “A musicalidade é inerente ao meu processo criativo. Isso, provavelmente, também tem a ver com a minha formação, com os cegos de feira, os emboladores, os versejadores que a cultura mourisca do Agreste e do Sertão traz consigo e que foram uma verdadeira escola para mim. Desde garoto, aprendi a lidar com o universo dos decassílabos, das sextilhas e redondilhas. Sempre estou à procura do ritmo em minhas criações”, explica o autor.

Até o filme A luneta do tempo, que estreia em maio no CinePE, sofre dessa influência – Alceu diz que cismou que os cortes entre as cenas deveriam obedecer a um certo ritmo. Apesar de preferir a musicalidade dos versos, ele conta que já havia escrito uma obra em prosa, já completa. O volume, intitulado como Inacreditáveis histórias verdadeiras, seria “uma reunião de crônicas autobiográficas”, mas terminou perdendo-se quando esqueceu um computador em um táxi.

Escritor da insônia, Alceu não sabe se vai preparar outras obras. Por enquanto, já lançou O poeta da madrugada, em Lisboa e em São Paulo, quando passou três horas dando autógrafos. Por aqui, ainda não há previsão de evento – uma das ideias é esperar a Fliporto, em novembro. “Se há prazer em escrever, há prazer em publicar. E também em autografar, encontrar o público em noites de lançamento. O problema é que escrever e autografar me dão uma dor arretada nas costas. (Risos) Mas a arte e o público merecem qualquer sacrifício. Além do mais, eu nasci para a arte e vivo para a poesia”, comemora o músico, mais poeta do que nunca.

Diogo Guedes

JConline

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