Objetivo é esclarecer se poeta morreu de câncer ou por envenenamento.
Dúvidas foram levantadas por motorista dele, em entrevista dada em 2011.
Os trabalhos de retirada de terra do
túmulo de Pablo Neruda começaram no domingo (7) noChile a fim de
que possam ser exumados nesta segunda-feira (8) os restos mortais do poeta. O
objetivo é esclarecer se ele morreu de câncer ou se foi envenenado por agentes
da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), informou a agência EFE.
Os preparativos foram iniciados na
tarde de domingo na cidade litorânea de Isla Negra, 100 km a oeste de Santiago,
onde fica a casa-museu em cujo pátio estão os restos do poeta junto aos de sua
terceira esposa, Matilde Urrutia.
A casa-museu fechou suas portas ao
público antes do horário habitual, e a polícia bloqueou o acesso à sua rua.
'Esta diligência é transcendental, é
muito importante para estabelecer o objetivo que nós temos', disse o juiz
responsável pelo caso, Mario Carroza, à imprensa.
Os preparativos consistem em retirar
toda a terra que cobre o túmulo a fim de descobrir a lápide, sobre a qual foi
colocada uma tenda protetora.
A equipe que participará da exumação
do corpo é composta por cinco peritos do Serviço Médico Legal, quatro da
Universidade do Chile e quatro especialistas internacionais.
Entre eles estão a toxicóloga
americana Ruth Winecker e três espanhóis, o também toxicólogo Guillermo
Repetto, o cirurgião Aurelio Luna e o médico legista Francisco Etxeberría, que
também participou, em 2011, da exumação do presidente chileno Salvador Allende.
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A diligência será realizada nesta
segunda-feira a partir das 8h locais (mesmo horário em Brasília).
No procedimento estarão presentes
três observadores internacionais, além do presidente do Partido Comunista (PC),
Guillermo Teillier; o advogado da legenda, Eduardo Contreras; um sobrinho do
poeta, Rodolfo Reyes, e o antigo motorista de Neruda, Manuel Araya.
Depois, os restos mortais serão
levados a um laboratório de antropologia do SML em Santiago, que contará com
vigilância permanente e medidas de segurança especiais, para serem submetidos a
diversas análises.
Câncer ou envenenamento?
Os exames visam determinar a veracidade da versão oficial da morte de Neruda,
segundo a qual o autor morreu em um hospital particular de Santiago em 23 de
setembro de 1973, apenas 12 dias depois do golpe de Estado de Pinochet. A causa
oficial da morte foi câncer de próstata.
As dúvidas surgiram em 2011, quando
seu antigo motorista, Manuel Araya, defendeu em entrevista a uma revista
mexicana que Neruda tinha morrido por uma injeção que recebeu naquele mesmo
dia.
Todas as testemunhas da época
concordam que ele recebeu essa injeção, mas o fator chave está em saber se era
um calmante, como se disse então, ou se continha outro tipo de substância.
"Existem muitas contradições no
processo, principalmente sobre o que aconteceu na clínica em que Neruda recebeu
atendimento", disse o advogado que fez o pedido de exumação, Eduardo
Contreras, à agência Efe.
"Para citar um exemplo, há
dúvidas a respeito da real identidade do médico que teria injetado um
medicamento (dipirona) no poeta, supostamente para lhe aliviar a dor",
completou Contreras, que ressaltou que Neruda "deveria ser atendido por um
médico chamado Sergio Draper".
"É estranho o fato de que Draper
fosse trabalhar na clínica apenas três dias antes da morte de Neruda, ainda
mais por ser um médico ligado ao Hospital Militar e, inclusive, mencionado na
morte (em 1982) do ex-presidente Eduardo Frei Montalva nessa mesma clínica por
envenenamento, como está credenciado na Justiça", precisou.
"É preciso citar que a ficha
médica de Neruda também desapareceu e que a Clínica Santa Maria não entregou a
lista com todos os seus funcionários em 1973", afirmou o advogado, que
lembrou que, no dia 24 de setembro de 1973, o jornal 'El Mercurio' publicou que
Neruda morreu de infarto após ter recebido uma injeção".
Isla Negra, 100 km a oeste de Santiago, onde fica a casa-museu em cujo pátio estão os restos do poeta junto aos de sua terceira esposa, Matilde Urrutia. (Fto: Justiça do Chile/AP Photo)Do G1, em São Paulo
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