“UM DIA MINHA MÃE ENTROU
NO QUARTO DO HOSPITAL E PEDI PARA ELA ACENDER A LUZ, ELA RESPONDEU QUE A LUZ
ESTAVA ACESA, DIANTE DISSO PEDI PARA ABRIR A JANELA, A REPOSTA FOI QUE A MESMA
ESTAVA ABERTA, FOI NESTE MOMENTO QUE ELA PERCEBEU QUE EU ESTAVA PERDENDO A VISÃO.”
A declaração é de
quem teve a visão interrompida ainda na infância. Geyza Kerle Silva de Oliveira
nasceu em 09 de setembro de 1985 no Sítio Cacimbinha – zona rural de Itapetim,
no Sertão do Pajeú, em Pernambuco.
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Devido a uma
Meningite por Criptococose, Geyza sofreu uma atrofia nos nervos ópticos e
perdeu a visão aos nove anos de idade no ano de 1994. Na época que começou a
sentir os sintomas da doença foi imediatamente submetida a orientações médicas
em Pernambuco e Paraíba, mas nenhum profissional conseguiu diagnosticar o
problema que colocava a vida dela em risco.
·
“Infelizmente
nenhum profissional naquela época estava ciente do que poderia ser o problema,
fui diagnosticada até como louca, para ter um tratamento de ficar isolada em um
quarto escuro”, lembra.
·
A mãe, Gilvani
Pereira da Silva, preocupada com a saúde da filha não desistiu de buscar uma
resposta para o problema. Foi aí que a família viajou para São Paulo para
tentar encontrar a cura da infecção até então desconhecida.
·
Muito debilitada
e pesando apenas 19 kg com 9 anos, Geyza conta que ouviu de um médico na
capital paulista a resposta de que ele não era Deus para fazer milagre,
referindo-se ao quadro de saúde da paciente. A situação só começou a mudar
depois que uma médica ficou sabendo do caso e resolveu interná-la. Após três
meses de internação e muitos exames veio o diagnóstico seguido de um intenso
tratamento para combater a doença e salvar a vida da garota, que mais tarde se
tornaria a primeira bailarina da Associação Fernanda Bianchini, única companhia
profissional de balé de cegos do mundo, localizada em São Paulo.
·
“Mesmo com as
sequelas, enfim sobrevivi, contrariando tudo e a todos”, comemora.
·
Depois da cura
teria início outra longa batalha para superar o trauma de não poder mais enxergar,
o que só foi possível graças à descoberta da dança. Mesmo sem a visão, Geyza
viu o balé com os olhos do coração e acreditou que a arte seria o caminho para
a superação e transformação da sua vida.
·
Ingresso no balé
Foto: Arquivo pessoal de Geyza
O sonho de Geyza antes mesmo de perder a
visão era ser bailarina e quando recebeu o diagnóstico de que não iria mais
enxergar, seus pais foram orientados a procurar o Instituto de Cegos Padre
Chico, uma escola especializada inclusiva, situada no Bairro Ipiranga na
capital paulista. No mesmo ano, a Fernanda Bianchini iniciava um projeto de
balé para deficientes visuais e a menina sonhadora do sertão pernambucano foi
convidada a participar.
“Mesmo em Pernambuco meu sonho sempre foi ser
bailarina, mas diante de todo o ocorrido, me sentia muito insegura e perguntei
a Fernanda: Como uma pessoa que não enxergava ia fazer movimentos tão bonitos,
como aqueles que eu via na televisão? A resposta dela foi: Que eu deveria
acreditar em meus sonhos”, contou ao Repórter do Sertão.
Dessa forma a jovem bailarina ingressou no
balé. Através da dança nos palcos conseguiu achar o seu espaço dentro da
sociedade e mostrar o seu diferencial diante de tantas dificuldades
enfrentadas.
“A dança foi quem realmente não deixou com
que eu me transformasse numa pessoa revoltada por ter perdido a visão, foi de
verdade o meu porto seguro para me fazer cada vez mais forte e feliz”, declara.
Geyza tornou-se a primeira bailarina da
Companhia e a primeira professora de balé cega do mundo. O grupo faz
apresentações motivacionais em empresas e teatros no Brasil e em outros países.
Desde 2005 ela dá aula para deficientes e não deficientes. Até o momento se
orgulha de contar com mais de 12 alunas já formadas. Além disso, também é
professora no Instituto Padre Chico, onde tudo começou.
Superação
Geyza com o marido e o filho. Foto: Arquivo pessoal
Em 2017 Geyza foi acometida por uma nova meningite,
dessa vez por Pneumococo, muito diferente da primeira, mas igualmente cruel.
Mesmo com a medicina evoluindo tanto, ela ainda chegou a ser desacreditada
pelos médicos. Mas a guerreira nordestina conseguiu mais uma vez superar a
doença com o apoio da família, dos amigos e, principalmente, na crença dos
poderes divinos.
“Sou
muito grata a minha família, amigos e principalmente a Deus, acredito que ele
tem um grande propósito em minha vida”, agradece.
Casada
há seis anos e mãe de um menino de cinco anos, ela esbanja gratidão de viver
uma vida feliz e de ter conseguido superar o trauma deixado por uma perda
física irreparável.
“Graças
a Deus sou muito grata e feliz por tudo em minha vida, superei juntamente com
minha família diversos problemas e com certeza me sinto realizada”, revelou.
Sonhos
Geyza durante visita a Itapetim sua terra natal. Foto: Arquivo pessoal
Apesar
de ter vencido várias batalhas e conquistado grandes vitórias, Geyza não esconde
o desejo de realizar sonhos futuros, inclusive no lugar onde nasceu. Um dos
desejos da bailarina é conseguir uma oportunidade de se apresentar em Itapetim,
sua terra natal.
“Gostaria
de dançar em um balé chamado Lago dos Cisnes, mas independente do balé a ser
dançado, gostaria muito de dançar na terra que eu nasci, para os meus parentes
e amigos”, diz.
Documentário “Olhando para as Estrelas”
Geyza
é uma das protagonistas do documentário “Olhando para as Estrelas” de Alexandre
Peralta lançado em 2017. A participação dela no filme resume o seu dia a dia
dentro e fora do balé, além de retratar diversos acontecimentos importantes em
sua vida como, casamento, gravidez, nascimento do filho e retomada da vida
profissional.
Participação em programas de TV e apresentações no Brasil e
em outros países
O
trabalho de Geyza juntamente com a Companhia Fernanda Bianchini já rendeu a
participação em diversos programas de TV e apresentações em teatros brasileiros
e internacionais. Por onde passa, o grupo emociona o público e mostra o poder
da superação através da dança.
Xuxa
Park – 1999; Jornal Nacional – 2003 e outros anos; Criança Esperança – 2005;
Faustão – 2005, 2006 e 2015; Fantástico – 2009 e 2012; Hoje em dia – 2010;
Programa do Ratinho – 2014; Conexão Repórter – 2019; Encontro com Fátima
Bernardes
Apresentações
importantes:
Teatro
Municipal de São Paulo em 2005, 2008, 2015 e 2017;
Maracanãzinho
– Rio de Janeiro – encerramento do Para Pan-Americano 2007
Palácio
das Artes em BH – com a Ana Botafogo – 2009
Buenos
Aires – Argentina 2011
Londres
– Inglaterra – encerramento das Paraolimpíadas – 2012
Festival
de Hagen – Alemanha – 2015
Los
Angeles – EUA – 2016
Brave
Festival – Polônia – 2016
Gala
International – The Art of Elysium – Hollywood – EUA – 2017
Puerto
Vallarta – México – 2018
Santiago
– Chile – 2019
Fonte: reporterdosertao
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