quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

São José do Egito: "Um carnaval que passou em minha vida", um texto de Arlindo Lopes

Bloco Os Capetas
Retornando ao meu passado me vejo em pleno sábado de “Zé Pereira” e tenho a nítida sensação de ouvir a música vinda do “Beco da Salgadeira”, comandada pelo saudoso Ancoreta e o Bloco  “OS Capetas”, “Ô Pio, não mate o boi... porque o boi não foi feito pra matar”... Não era bem esse o desejo da criançada que só acalmava quando Pio matava o boi. E o mestre Severo, como que em transe, falava palavras mágicas ao ouvido do boi, que renascia com mais vigor e “Pernas pra que te quero”, a criançada se debandava em desespero, procurando refúgio da chifrada do boi.

Zé Boião e Boi de Severo

 Agora meu pensamento chega à Rua da Baixa e meus tímpanos são tomados de vez pelo batuque da Escola de Samba “Os Caveiras”, sob a regência do grande carnavalesco Supa... mas, espere, estou ouvindo outro batuque vindo lá do lado da fábrica  de Café Diamante Negro, é a Escola de Samba Egipciense, que também se aproxima e ao seu lado vejo Inácio do Café com o seu amigo Antônio Calado do “Doce Joelma”, são os dois foliões mais animados, e vai ter concurso de blocos carnavalescos. A população já tomou conta da Rua da Baixa e da Rua de Cima, o resultado do concurso: As Escolas empataram e o povo ganhou.

Mas, o que é isso? O que fez o samba parar?  Que som é esse? Que música é essa? “pom-pom, pom-pom; pom-pom, pom, pom” É o professor Deda com o seu Trombone de Vara, tentando os acordes de “Quem sabe, sabe... conhece bem”, e assim esse som vai tomando  conta de todos os Bares de São José do Egito. Eternas saudades...  Enquanto isso, as Escolas de Samba desfilam em cima de carros pelas ruas, levando alegria e animação aos foliões, que pacificamente brincam o animado carnaval.

Foliões no Clube Hotel

  Anoitece e o Clube Hotel, já se encontra superlotado, é o baile carnavalesco mais animado do mundo. A afinadíssima Orquestra comandada pelo maestro Inaldo Sampaio, leva o folião ao delírio com o frevo “Vassourinhas”, e dando voltas incansadas em torno do salão, o folião aproveita todos os minutos possíveis. Lá vem Chico Careca com um copo na mão e cantando: “A nossa vida é um carnaval...”, olha lá Dona Diva e Seu Paulino acompanhando a música “Bandeira Branca”; olha só que animação tem essa turma do bloco de Alberto do Banco, todos esbanjam  sorrisos de felicidades; vejam, é “Dado”, o Rei Momo balançando a sua pança; sai do meio Cilo Oião que lá vem Bolero dando suas “Cabeçadas” como um touro furioso inebriado pela música “Boi, boi, boi... boi da cara preta...”.

E retornando ao presente me encontro só, aqui na Rua da Baixa, sem escutar sequer um apito, um samba, um frevo. Lá no fundo estou ouvindo um Carro de Som tocando um Axé. E por falar em Axé... não seria ele o vilão assassino dos saudosos carnavais? Não sei. Não seriam as pessoas com mais dinheiro que vão passar o carnaval no litoral? Não sei, não seria? Não, não seria e se? Não, não é isso, é? Chega, acabou. Foi sepultado o verdadeiro e alegre carnaval Egipciense.

Restam apenas as notas musicais de um clarim ecoando em nossos ouvidos o seu toque fúnebre e a saudade de quem viveu no passado a fantasia do inesquecível Carnaval.

                                                                                                          Arlindo Lopes "Pirraia"


CANTIGAS E CANTOS

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