Por Fernando Patriota
O poeta, pesquisador da Cultura Popular,
escritor e um dos maiores repentistas brasileiros, Otacílio Batista, será um
dos patronos da Academia de Letras e Artes de Tabuleiro do Norte (Aleart),
município do Ceará. Autor de vários livros, dentre eles “Antologia Ilustrada
dos Cantadores”, escrito com o também pesquisador, Francisco Linhares, Otacílio
Batista será patrono da escritora e poeta Eulinda Maria Noronha Moreira,
ocupante da Cadeira nº 32. A Academia possui 40 integrantes, sendo 16 na área
de Letras, 12 de Artes e 12 dos segmentos de Educação e Cultura. A solenidade
de inauguração da Aleart acontece neste sábado (25), às 19h e quem coordenará o
evento será o presidente da Aleart, o escritor Cicinato Ferreira Neto.
Otacílio Guedes Patriota, nome do registro de
nascimento do poeta, nasceu no dia 23 de setembro de 1923, na Região do Pajeú
das Flores, mais precisamente na Vila Uburanas, município de Itapetim.
Pernambuco. Ele chegou em Tabuleiro do Norte em 1948 e, no ano seguinte,
conheceu a professora Rosina de Freitas, com quem casou em 1950. Dessa união
nasceram 11 filhos, dos quais nove estão vivos. Seis deles nasceram em
Tabuleiro e três na cidade vizinha, Limoeiro do Norte. Apenas uma filha nasceu
em João Pessoa, mas foi registrada em Tabuleiro do Norte. Naquele município,
além de exercer sua profissão de repentista, ele também foi vereador, entre os
anos de 1962 e 1966, e delegado da cidade.
Sempre engajado com as atividades
socioculturais do lugar, foi ele o fundador da Igreja de Santo Antônio, santo que
o Otacílio era devoto. Foi ali que o poeta instituiu uma escola para
alfabetizar crianças e adultos. Outra ação criada por ele o chamado “paga” de
Santo Antônio, tinha a finalidade de assistência social voltada às pessoas mais
pobres da redondeza. Até hoje, esse trabalho permanece na cidade. Mais uma
participação marcante de Otacílio Batista no município foi o acolhimento de
Frei Damião, ocorrido nos anos de 1960.
Otacílio, Rosina e família moraram em
Tabuleiro do Norte até fevereiro de 1972, quando partiram para Fortaleza. Na
Capital cearense, eles permaneceram até julho de 1977, quando, enfim,
desembarcaram na antiga rodoviária de João Pessoa. O homem que cantou para o
Papa João Paulo II e foi homenageado pelo Vaticano morreu no dia 5 de agosto de
2003, em sua casa, no Bairro Brisamar, vítima de um edema pulmonar, talvez uma
sequela ainda dos temos de fumante, vício que conseguiu abandar aos 55 anos de
idade.
Eulinda Noronha conta que sua admiração por
Otacílio Batista nasceu quando ela tinha apenas cinco anos de idade, nos idos
de 1963. “Tive o privilégio de ser uma, dentre seus pequeninos alunos das
primeiras letras. A escola? Um prédio em construção, chão ainda no barro e
paredes sem reboco. Este lugar veio a ser a Capela de Santo Antônio”, comentou
a acadêmica. A Capela fundada pelo autor de “Mulher nova, bonita e carinhosa
faz o homem gemer sem sentir dor”, em Tabuleiro do Norte, recebe grande número
de fiéis até hoje. “Aos meus olhos, de menina franzina, ele era um homem
grandalhão, de olhos azuis e bondosos e que trazia no rosto a expressão de
bondade e condescendência para com aquelas crianças tão carentes”, lembra,
emocionada, Eulinda Noronha.
Otacílio Batista está incluído entre os Cem
Maiores Poetas Brasileiros do Século, em obra do jornalista e escritor José
Neumanne Pinto. Otacílio também é conhecido como “A Voz do Uirapuru” ou o
“Uirapuru do Sertão,” e teve uma grande produção escrita, com 20 livros em
versos e gravou 11 discos. Cantou para os presidentes da República Eurico
Dutra, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Jânio Quadros e João Batista de
Figueiredo. Cantou e versejou, denunciando ao mundo a fome e o descaso político
que assolavam a classe pobre nordestina. O poeta ainda exportou a poesia
popular para Portugal, Cuba, Argentina e Bolívia e fez dupla com os principais
cantadores de viola, durante mais de 60 anos de carreira ininterrupta.
“A expressão da cultura popular seria bem
mais valorizada se houvesse, por parte do Ministério da Educação um incentivo
bem articulado nas escolas dos municípios, com projetos pedagógicos que
culminassem com saraus, cantorias, cordéis. Enfim, com festejos às criações
populares. Só um trabalho de base para incutir nas mentes, principalmente
jovens, a importância das suas origens, da cultura da sua cidade, da sua
região, do seu País”, comentou Eulinda Noronha.
Perfil – Eulinda Maria Noronha
Moreira, nasceu e cresceu em Tabuleiro do Norte. É a segunda, dentre os nove
filhos criados em pobreza extrema. Estudou até a 4a série primária em escola
pública e ficou sem estudar por seis anos, já que só havia séries mais
avançadas em escolas particulares sua família não podia pagar as mensalidades.
“Depois, com a vinda do Ensino Fundamental maior para a escola pública Avelino
Magalhães, dei prosseguimento aos estudos ano a ano até concluir a graduação em
Letras pela Universidade Estadual do Ceará, Faculdade de Filosofia Dom
Aureliano Matos, em Limoeiro do Norte. Em 1982, tornei-me professora de escola
pública”, informou. Nos anos 90, em parceria com a colega de trabalho Eva Maria
Maurício, escreveu um livro, para o público infantil, sobre a história de
Tabuleiro e um texto conclusivo da pós-graduação em Administração Escolar
“Autoestima e Aprendizagem na Infância”. Ela também escreve poemas e textos
para a alfabetização de crianças.
Fonte: Blog Os Guedes
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