Em entrevista ao G1, Jotabê Medeiros diz que o documento foi mostrado a ele por Coelho, encontrado anexado em uma tese de doutorado.
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Paulo Coelho com Raul Seixas no Canecão nos anos 1970 — Foto: Divulgação/Fundação Paulo Coelho |
Paulo
Coelho voltou a fazer comentários em suas redes sociais sobre o livro que
sugere que Raul Seixas o entregou para ditadura. O autor falou no Twitter nesta
quinta-feira (24) se referindo a "Não diga que a canção está perdida"
(da editora Todavia), do jornalista Jotabê Medeiros sobre Raul.
"Começo a ter sérias dúvidas dos documentos que o Jotabê Medeiros
me enviou, dizendo e insistindo que Raul tinha me denunciado (emails
arquivados). O que se passou entre Raul e eu fica entre nós. Vou deletar o
tweet da FSP [jornal 'Folha de S. Paulo']. Acho que o cara quer apenas vender a
porra do livro", escreveu Coelho.
Na
reportagem do jornal, Jotabê diz que crê que Coelho "não tem a menor
dúvida, hoje, após ver o documento, de que Raul o entregou". Ao ser
perguntado no Twitter sobre esta parte do texto, Coelho respondeu: "Crê,
está escrito. Invenção dele."
Em
entrevista ao G1, Jotabê disse que o documento
foi mostrado a ele por Coelho, encontrado anexado em uma tese de doutorado.
"É um absurdo que ele esteja falando isso", diz o jornalista.
"O
Paulo me disse que pelo documento o Raul havia sido incumbido de vigiar ele.
Bom, eu fui até o Arquivo Público do Rio de Janeiro e peguei o documento, ele
achava que poderia ser inventado. O original está lá, eu tenho fotos, o número
da pasta, tudo."
"Quando
eu vi o documento ponderei que ele não era conclusivo, e o livro diz que ele
não é conclusivo. Ele indica que a ditadura determinou que o Raul fosse
contatado, mas não se sabe se foi verdade. O Paulo provavelmente surtou, não
sei o que aconteceu com ele. Eu não assumi a questão da delação, ele achava que
eu fosse assumir."
Documento sobre caso
O
documento cita que o órgão chegou a Paulo "por intermédio do referido
cantor". O caso foi revelado em uma reportagem do jornal "Folha de
S.Paulo", que antecipa detalhes do livro. Ele está em pré-venda e será
lançado na sexta-feira (1º).
Na
quarta-feira (23), o escritor comentou sobre a possibilidade de Raul Seixas
tê-lo entregado para a ditadura militar: "Fiquei quieto por 45 anos. Achei
que levava segredo para o túmulo." Após a repercussão de seu tuíte, Coelho
voltou a escrever: "Não confirmei e não confirmo nada. Eu apenas vi o
documento e me senti abandonado na época."
No livro,
Medeiros conta que Raul foi chamado para depor no Dops (Departamento de Ordem
Policial e Social) algumas semanas antes de Coelho ser detido.
Entrevista sobre caso
Em
entrevista à BBC Brasil em setembro deste ano, Paulo Coelho relembrou o
episódio de tortura sofrido em 1974. "Os militares não entendiam as minhas
músicas. Eles diziam 'Quem são esses caras aí? Raul Seixas e Paulo Coelho.
Alguma coisa está errada porque a gente não entende o que eles estão
falando'."
"Então,
chamaram o Raul para depor. O Raul era o cantor. Como diz o Elton John, 'Don't
Shoot Me, I'm Only the Piano Player' (Não atire em mim, eu sou apenas o
pianista). Mas a eminência parda, o cara perigoso, o ideólogo era o letrista.
Então eles me prenderam. Agora, tem que justificar uma prisão. Não acharam
nada", disse.
"Quando
eu estava preso oficialmente, fichado, com impressão digital, meus pais
conseguiram mandar um advogado. Aí, me soltaram no mesmo dia e me sequestraram
em frente ao aterro do Flamengo. Me arrancaram do táxi, me jogaram na grama, me
botaram a arma. Eu estava entregue. Aí eu fui torturado, apanhei, essas coisas
todas."
Por G1
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