terça-feira, 16 de julho de 2019

Artigo: "Uma lágrima por Haroldo Santos", uma homenagem de Inaldo Sampaio



Uma lágrima por Haroldo Santos

Por Inaldo Sampaio

Morreu ontem(15), no Recife, e será sepultado nesta terça-feira (16), em São José do Egito, o guitarrista Haroldo Santos, um dos melhores músicos que o sertão pernambucano já conheceu. Não resistiu a um câncer de pulmão, dado que era fumante há mais de 50 anos.

Eu e Haroldo nos conhecemos em 1970, em São José do Egito, nossa terra comum, quando, ainda adolescentes, fomos convidados para fazer parte de uma banda de Jovem Guarda: VÊNUS 6. Que muito sucesso fez na região nos seis anos seguintes.

Éramos autodidatas. Eu, tocando sax-tenor, sem que nunca tivesse tido uma aula desse instrumento. Ele, nascido no distrito de Bonfim, tocando contra-baixo, embora já tivesse chegado à cidade dominando bem o violão.

Completavam nossa “banda de yê yê yê” no início de sua formação Carlos Fernandes (teclado), Zezé Gonçalves, o “Rato”, o maior baterista que já vi na vida - e olha que já tive oportunidade de assistir Ringo Star (ex-Beatles), Netinho (ex-Incríveis) e muitos outros - Cláudio Silva (trompete), Renato Leite (guitarra) e Joacil Menezes (crooner), hoje morando em Brasília.

Haroldo era um bom sujeito, embora um pouco desconfiado. Só se aborrecia quando não conseguia tocar corretamente a música no primeiro ensaio. Era aplicado, correto, direito, humilde e tinha um ouvido de fazer inveja a gente muito mais talentosa do que ele.

Para prosseguir meus estudos, mudei-me para o Recife em 1974, mas todos os finais de semana – sem exceção – voltava a São José para cumprir a agenda da banda, que vivia permanentemente repleta, e era sempre uma alegria rever Haroldo. Não havia as bandas de “forró fuleiragem” de hoje (obrigado, José Teles, pela feliz expressão), as festas se realizavam nos clubes, não faltando contratos para as bandas de Jovem Guarda que existiam na época.

Na região, além de “Vênus 6”, costumavam se apresentar OARA (Arcoverde), Marajoara (Sertânia), Edésio e seus Red Caps (Serra Talhada), Os Admiráveis (Pesqueira), Os Jovens e Z-7 (Patos-PB), Os Tropicais (Monteiro-PB), Ases do Ritmo (Crato-CE) e Ogírio Cavalcanti e seu conjunto (Campina Grande-PB).

Aliás, foi esse “Ases do Ritmo” que nos viu tocando em Serra Talhada, num baile em que foi escolhida a futura “Miss Pernambuco” (Cilene Aubry), e de lá mesmo nos “roubou” Zezé Baterista, o que quase nos mata de tristeza.

De lá o “Rato” foi embora para o Ceará, daí para Paulo Afonso (BA), e da Bahia para São Paulo na banda do cantor Nilton César. Morreria alguns anos depois num acidente de carro quando voltava de uma tocata no interior paulista, mesmo trágico fim que também teve o nosso ex-tecladista Carlos Fernandes (“Carlinhos de Bernardo”) quando já não estava mais conosco e sim morando em Imperatriz. Morreu na estrada que liga Imperatriz a Açailândia quando voltava de um show (cerração na pista). Ele e Edvaldo José dos Santos, o “Valdinho de Zé Alexandre”, eram os sócios-proprietários da banda. 

Devo confessar que tenho pena dos jovens de hoje por não terem tido oportunidade de conhecer as bandas da década de 70, restando-lhes (com todo respeito), dentre outras, Vilões do Forró, Aviões do Forró, Solteirões do Forró, Calcinha Preta, Saia Rodada, e vai por aí. De musicalidade zero e repertório de quinta categoria.

Meu último encontro musical com Haroldo Santos foi em janeiro deste ano, em São José do Egito, na tradicional Festa de Reis. Reunimo-nos no “Jair Som”, misto de bar e casa de gravações (CDs, DVDs, etc) para um “show” sem compromisso na companhia de outros músicos da terra. Passamos cerca de quatro horas desfilando por vários gêneros musicais (Jovem Guarda, Bossa Nova, Romantismo, Forró Pé de Serra, Frevo, etc.) com a agradável participação de amigos comuns como Sales Rocha (violão e voz), Aluísio Lopes (voz), Édson Antônio (violão e voz) e outros de que não me recordo agora porque eram muitos.

Poucos dias depois, fomos surpreendidos pela notícia da morte de Almir Correia de Melo, tecladista da “Banda PINGA FOGO”, que fundei e dirijo na capital há 20 anos. Era diabético e morreu em Patos (PB), onde residia, vítima de infecção generalizada. Já havia amputado uma perna num hospital do Recife (IMIP), mas continuava tocando normalmente, apesar de quase cego. Sua morte foi um baque para todos nós. Vencido pelo diabetes.

Agora se vai também Haroldo, com pouco mais de 60 anos de idade. Era muito querido em nossa terra, São José, onde iremos lembrar sempre dele pelo lado da alegria, e não da tristeza. Dele irei recordar sempre do solo de guitarra que fazia na música “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, exatamente como foi gravada no primeiro LP do “Quinteto Violado”.

“Eu queimo os dedos, mas vou aprender a tocar essa gota serena”, desabafou num dos nossos ensaios. Pena que Toinho Alves (baixista do Quinteto, já falecido) e Marcelo Melo (ainda no comando do grupo e criador do solo) não tenham tido oportunidade de ver Haroldo executá-lo.

Descansa em paz, querido amigo!

Artigo enviado por Inaldo Sampaio (Jornalista e Músico)












CANTIGAS E CANTOS

Um comentário:

  1. Conheci Aroldo, já estivemos algumas vezes juntos em São José do Egito, quando estava com Aluísio Lopes, e numa festa na minha cidade que é Ouro Velho, ele tocando sua guitarra, tinha tomado uma água amais, e lá pra uma da manhã numa musica ele fechou e parou de tocar por alguns segundos, e o Rato percebeu, fez uma variação, e ele abriu os olhos e continuou tocando, foi muito engraçado, mais avida é assim, vai o ser e fica a saudade, que Deus o tenha do seu lado.

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