
Os versos de um Manoel Xudú
O repinique hipnótico da viola
Se aprende na vida que é escola
Prova disso foi um Zezé Lulu
Um caboclo aqui do Pajeú
Que vivia fazendo cantoria
Sem ingresso, sem cachê e sem bacia
Imortalizou-se nos arquivos da peleja
Como pode caber numa bandeja
O valor impagável da poesia?
Como podem querer comprar o céu
E as estrelas que moram n’amplidão
Ninguém paga uns versos de Cancão
Nem as agruras da alma de um réu
Ninguém compra uma torre de chapéu
Que se forma no nascente todo dia
Qual o preço dos mistérios de Maria,
Quanto vale uma brisa benfazeja?
Como pode caber numa bandeja
O valor impagável da poesia?
Lourival que era o rei do
trocadilho
O lirismo de um Jó Absoluto
Velho Pinto do Monteiro bem
astuto
Numa rima jamais perdeu o trilho
Afogueava o repente dando brilho
Afogueava o repente dando brilho
Sem jamais ter usado hipocrisia
Suave como o vento em melodia
Ou raivoso como o sol quando dardeja
Como pode caber numa bandeja
O valor impagável da poesia?
Não existe moeda fabricada
Seja ela de prata ou de papel
Que ainda possa domar este tropel
De poemas quando partem em disparada
São reflexos de uma mente iluminada
Libertários correndo a revelia
Eu duvido que apareça qualquer dia
Quem tabele esta musa sertaneja
Como pode caber numa bandeja
O valor impagável da poesia?
O pagamento que acho mais perfeito
É o povo aplaudindo e delirando
A cabeça, de versos vai inchando
Megatons de poema
explodem o peito
Se do meio do povo algum sujeito
Se levanta com dinheiro em gritaria
Para mim acabou-se aquele dia
acabou-se a fornalha da peleja
Como pode caber numa bandeja
O valor impagável da poesia?
Edinaldo Leite
Fonte: Balcão de Bodega
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