
Eu me criei trabalhando”
A roça de algodão
E no varal de feijão
As bages secas se abrindo
Meu Deus como era lindo
Ver o milho pendoando
E as borboletas pousando
Em um tapete de flor
Meu pai era lavrador
Eu me criei trabalhando.
Preguiça, só atrapalha
Até formiga trabalha
Dia e noite sem parar
Faz buraco pra morar,
Fica saindo e entrando
Cavando a terra e tirando
Sem precisar cavador
Meu pai era lavrador
Eu me criei trabalhando.
Toda hora que chovia,
Cantavam com alegria
Milhares de lavandeiras
Canários e tecedeiras
Os garranchinhos levando,
Faziam ninho cantando
Sem ter frio e sem calor
Meu pai era lavrador
Eu me criei trabalhando.
Do trabalho do roceiro
Meu pai cavava canteiro
E minha mãe ainda nova,
Com um pé cavando cova
Com outro pé aterrando
Muita semente plantando
Sem precisar de trator
Meu pai era lavrador
Eu me criei trabalhando.
Craíbas e Boa Vista,
Orgulho de repentista
Nascido e criado ali
Poço-verde: estou aqui
A nossa história contando
Hoje recordo chorando
Como quem sente uma dor
Meu pai era lavrador
Eu me criei trabalhando.
Com farinha e com beiju
Com castanha e com caju
Amendoim e paçoca
Plantei muita mandioca
Vi o milho bonecando
E os camaleões andando
Como quem muda de cor
Meu pai era lavrador
Eu me criei trabalhando.
Quando o almoço chegava,
Todo mundo descansava
Numa mangueira sombria
Lá no sítio ninguém via
Menino vagabundando
Nem pedindo, nem roubando,
Nem matando professor
Meu pai era lavrador
Eu me criei trabalhando.
Cantava pelas estradas
Vendo flores perfumadas
Naquele campo divino
Vi beija-flor pequenino
De uma em uma beijando
Vi as flores desbotando
Embriagadas d’amor
Meu pai era lavrador
Eu me criei trabalhando.
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