quarta-feira, 24 de maio de 2017

Poesia: "Fiz do peito meu cofre de saudade Pra guardar as lembranças do sertão", um poema de Donzílio Luiz










Fiz do peito meu cofre de saudade
Pra guardar as lembranças do sertão

Fiz do peito uma aliança
Que conservo trancada a sete chaves
Coloquei um ferrolho e duas traves
Para tê-la com muita segurança
E guardei dentro dela por lembrança
Umas ramas de fava e de feijão
Conservando umas flores em botão
Como símbolo da nossa ansiedade
Fiz do peito meu cofre de saudade
Pra guardar as lembranças do sertão

Como tanto queria estar agora
Visitando essa faixa geográfica
Conduzindo uma máquina fotográfica
Pra tirar uma foto de hora em hora
Registrando o crepúsculo e a aurora
Responsáveis pela transformação
Onde a noite começa a escuridão
E o dia inicia a claridade
Fiz do peito meu cofre de saudade
Pra guardar as lembranças do sertão

Outra cena que sempre se repara
É o contraste fugaz do arrebol
Os mosquitos tomando a luz do sol
Parecendo uma nuvem de confete
A represa um espelho em que reflete
A imagem da garça e mergulhão
Ajudando na nossa formação
Sem carência de outra faculdade
Fiz do peito meu cofre de saudade
Pra guardar as lembranças do sertão

Nesse cofre abstrato estão guardados
Meus primeiros brinquedos infantis
E o retrato de muitos dos guris
Nos cipós balançando pendurados
As vazantes, as baixas, os roçados
Onde o povo fazia plantação
Sem nenhum agrotóxico pôr no chão,
Pois a terra já tem fertilidade
Fiz do peito meu cofre de saudade
Pra guardar as lembranças do sertão

Eu ainda me lembro que o roceiro
Que habita naquelas regiões
Quase sempre tem duas profissões,
Pois durante o inverno é enxadeiro
Quando estia ele muda para oleiro
Cava barro e amassa com a mão
Para a casa que está em construção
Fabricando os tijolos numa grade
Fiz do peito meu cofre de saudade
Pra guardar as lembranças do sertão

Donzílio Luiz

Poema retirado do livro “Pelas trilhas da memória”, de Donzílio Luiz de Oliveira.

CANTIGAS E CANTOS

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