sexta-feira, 28 de abril de 2017

Poesia: "Se eu pudesse comprava a mocidade, nem que fosse pagando a prestação", um poema de Geraldo Amâncio

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Foto: Imagem/Google

Se eu pudesse comprava a mocidade
Nem que fosse pagando a prestação

A primeira paixão eu tive cedo
Contra nós a mãe dela se opôs
Proibiu o namoro entre nós dois
Nosso amor virou cofre de segredo
Quando eu fui lhe beijar foi tanto medo
Que eu tremia cabeça, pé e mão
Ela toda gelada de emoção
Assombrada com essa intimidade
Se eu pudesse comprava a mocidade
Nem que fosse pagando a prestação

Olha a tela do tempo e me torturo
Mostra o filme do meu inconsciente
Meu passado maior que o meu presente
Meu presente maior que o meu futuro
Se a velhice é doença eu não me curo
Que os três males que atacam o ancião
É desprezo, carência e solidão
E é difícil escapar dessa trindade
Se eu pudesse comprava a mocidade
Nem que fosse pagando a prestação

Eu andava aprumado e fiquei manco
Hoje o tempo me enjeita e me repurga
Minha pele era lisa e criou rugas
Meu cabelo era preto e ficou branco
Entre as quatro paredes que me tranco
Amarrado nas cordas da exclusão
Eu procuro encontrar respiração
Mas o fôlego só vem pela metade
Se eu pudesse comprava a mocidade
Nem que fosse pagando a prestação

Entre juras eternas e velhos instantes
Já pesquei ilusões, festejei bodas
Das sereias que eu tive perdi todas
Dez por cento não sou do que fui antes
Cortei mares de espumas flutuantes
Com a força que tem o furacão
Com o tempo virei embarcação
À deriva nas ondas da saudade
Se eu pudesse comprava a mocidade
Nem que fosse pagando a prestação

Geraldo Amâncio
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CANTIGAS E CANTOS

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