quarta-feira, 12 de abril de 2017

Poesia: "A moagem", um poema de João Batista de Siqueira (Cancão)

Foto: imagem/Google

A MOAGEM

Na aldeia os galos cantam
Alguém chama no cercado
Dois boiatos se levantam
Obedecendo ao chamado
Saem em passos bem lentos
Ouvindo a todos momentos
O cantarolar do dono
No caminho emparelhados
De olhos quase cerrados
Devido ao peso do sono

O camponês, nessa hora
Sai em busca do engenho
Conhecendo que a aurora
Mostra o primeiro desenho
Ao chegar junto ao bueiro
Acende um fogo ligeiro
Guarda algumas encomendas
Um canto baixo... depois
A pisada de dois bois
Roda pesadas moendas

O atrito do engenho
Desperta toda a savana
Num mastigado ferrenho
Com um quebrado de cana
Pisadas na bagaceira,
Rumores de passadeira,
Alguns raspar de gamela
Mais um grito de um rapaz
Desviando os animais
De pancadas na cancela

Fraca brasa de um cigarro
Já vem descendo na brenha
É um crioulo no carro
Que vem completo de lenha
Com jeito fala a boiada
Que vem em lenta pisada
Atravessando um regato
Logo sente um arrepio
Causa do orvalho frio
Que se derrama do mato

Ali, naquela ribeira,
O povo cedo desperta
Um que olhar da porteira
Vê a manhã descoberta
Já na fornalha o braseiro
Faz sair pelo bueiro
Denso fumo espiralado
Quando o vento o despedaça
Espalha por onde passa
Cheiro de mel cozinhado

A manhã desperta santa
Seu clarão no céu espalha
Um sorri, um outro canta
Tudo ao redor da fornalha
Por cima da bagaceira
As moças fazem fileira
Todas puxando alfinim
E aquelas mais caprichosas
Fazem desenhos nas rosas
Numa delícia sem fim

Um ancião diligente
Faz um cigarro de palha
Como o mais experiente
No serviço da fornalha
Bem junto ao assentamento
Não se desvia um momento
Vendo a garapa ferver
O fogo bem calibrado
Que tem o maior cuidado
De a tachada se perder

Um café, numa saleta
Sai das mãos de uma senhora
Um estalar de carreta
Sempre da parte de fora
São os dois bois sonolentos
Devido a seus movimentos
Já sentem uma pouca coragem
Suas orelhas pendentes
Aguardando pacientes
Que chegue o fim da moagem

Cinco horas, na porteira
Tiram a canga dos bois
Um alguém, lá na cocheira
Corta ração para os dois
Depois vão para o cercado
Um junto ao outro encostado
Devido as suas canseiras
Amanhã, os mesmos atos
Que durarão seus maltratos
Cinco semanas inteiras.

João Batista de Siqueira (Cancão

Poesia tirada do livro; “Palavras ao plenilúnio”  de Lindoaldo Jr.


CANTIGAS E CANTOS

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