"Vejo o espelho
cruel da minha sorte
Refletindo a beleza
do passado"
Bem pequena, muito
amada por meus pais
Não sabia o que era
sofrimento
Encantada no meu
próprio encantamento
Muito longe, bem
distante dos meus ais
Sem saber que
futuros carrascais
Chegariam, num ocaso
inesperado
Num impasse se faria
inaugurado
Sem aviso sem
mostrar o passaporte
Vejo o espelho cruel
da minha sorte
Refletindo a beleza
do passado
Feito jovem, pele
linda, tez nevada
Como a pura
porcelana, a eleita!
Sublimar, belo lírio
que enfeita
Todo campo, branca
mesa entoalhada
De repente, mais que
de repente em nada
Tudo, tudo, isso
vejo transformado
Todo traço de
beleza, ocultado
Minhas linhas,
minhas curvas, são deporte
Vejo o espelho cruel
da minha sorte
Refletindo a beleza
do passado
Meus cabelos que
pendiam belamente
Ralearam, não mais
chegam à cintura
Meus catorze anos,
de alma pura
Do carnal pecado eu
era ausente
Mas o dia D da dor
se fez presente
Apossou-se, fez
morada do meu lado
A alegria para
sempre fez traslado
Lá bem longe foi
morar, não sei seu norte
Vejo o espelho cruel
da minha sorte
Refletindo a beleza
do passado
Ao passar na
vitrine, me espanto
Custo crer na figura
projetada
Um espectro
assustado sai do nada
Arrebata meu
momento, desencanto
A tristeza se
apodera, cai o pranto
Cubro o rosto pra
não ver meu próprio estado
Lembro todos que
roubaram meu primado
Olho em volta, a
saída é só a morte
Vejo o espelho cruel
da minha sorte
Refletindo a beleza
do passado.
Aluísio Lopes (S.
José do Egito)
Mote: Severina Branca
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