Foto: Imagem/Google
Se dinheiro comprasse mocidade
Eu seria criança toda vida
Vinte e oito janeiros me jogaram
Na cadeia dos tristes desenganos
Sinto falta dos meus quatorze anos
Que a soma dos meses apagaram
Os meus dias felizes lá ficaram
Pela rua da infância adormecida
A barcaça da existência fez partida
Pela água do rio da saudade
Se dinheiro comprasse mocidade
Eu seria criança toda vida
Uma noite de inverno, um dia quente
Um domingo ou por outro, um feriado
Um riacho no leito do roçado
Dando estrondo com o peso da enchente
Um açude sangrando lá na frente
São orgulhos da infância inesquecida
Mas, o tempo tem ordem permitida
Pra dar fim aos prazeres da idade
Se dinheiro comprasse mocidade
Eu seria criança toda vida
Envolvido nos sonos da meiguice
Vive um homem a gozar uns certos anos
Sem pensar seus fortes desenganos
Lhe conduzam pra o porto da velhice
Mas adiante lhe ataque uma mouquice
Pra deixar a ideia confundida
Não encontra mais apoio na dormida
E o seu único recurso é caridade
Se dinheiro comprasse mocidade
Eu seria criança toda vida
Erasmo Rodrigues
“Poeta
de Ouro Velho”
CANTIGAS E CANTOS
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