quinta-feira, 23 de março de 2017

Poesia: Ivanildo Vilanova e Geraldo Amâncio improvisando com o tema “Sertão”:

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Ivanildo Vilanova e Geraldo Amâncio improvisando com o tema

“Sertão”:

Uma tarde de inverno no sertão
É um grande espetáculo pra quem passa
Serra envolta nos tufos de fumaça
E água forte rolando pelo chão
O estrondo da máquina do trovão
Entre as nuvens do céu arroxeado
Um raio caindo assombra o gado
Atolado por entre as lamas pretas
Rosna o vento fazendo piruetas
Nas espigas de milho do roçado*

No sertão quando é bem de manhãzinha
Sertanejo se acorda na palhoça
Chama o filho mais velho para a roça
A mulher toma conta da cozinha
Faz o fogo de lenha e encaminha
Um guisado, angu quente ou fava pura
E depois de fazer essa mistura
Sai faceira igualmente uma condessa
Com um quibongo de barro na cabeça
E vai levar aos heróis da agricultura**

No sertão a tarefa é muito dura
Mas se tendo a colheita, a criação
Ferramenta da roça, produção
Uma rede, um grajau de rapadura
Uma “dez polegadas” na cintura
A viola, uma baú, uma cabaça
A tarefa e um litro de cachaça
Mescla azul, botinão, chapéu, baeta
Fumo grosso, espingarda de espoleta
E um cachorro mestiço bom de caça*

É preciso ter muita paciência
Guardar milho num quarto empaiolado 
Sustentar criação com alastrado
Numa terra que tem pouca assistência
Trabalhar numa frente de emergência
Esperando o inverno que não vem
Insistir, crer em Deus e tratar bem
Manter sempre a família tão unida
Do chão seco arrancar o pão da vida
Sertanejo faz isso e mais ninguém**

No verão quando o sol se descortina
Se escuta o zumbido das abelhas
O balir melancólico das ovelhas
O dueto dos pássaros na matina
O bonito alazão sacode a crina
O vaqueiro abolando chama a rês
Os canções gritam todos de uma vez
Acusando a presença da serpente
Num concerto de música diferente
E da orquestra sinfônica que Deus fez*

E o traje do homem camponês 
Quando sai pra uma festa ou para a feira
A calça de mescla, uma peixeira
Um paletó listrado ou xadrez
Umas botas de couro de uma rês
Para dançar forró enquanto é moço
Um chapéu abalado, grande e grosso
Com uma pena qualquer de um passarinho
E a medalha fiel do meu padrinho
Num rosário enfiado no pescoço**

Falar mal do sertão hoje eu não ouço
Não se entrega ao cansaço ou enxaqueca
Um herói pelejando a seca
Contra a cheia combate sem sobrosso
Respeita a moral de velho ou moço
Também quer ver a sua respeitada
Sem Brasil a América é derrotada
Com Brasil a América vale mil
Sem nordeste o Brasil não é Brasil
E sem sertão o nordeste não é nada.*


Ivanildo Vilanova* e Geraldo Amâncio**

Repentes, motes e glosas – Jornal Besta Fubana

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